A viagem que fizemos a Santiago do Chile em novembro de 2023 tinha três motivações: apagar a sensação de dez anos atrás de um passeio que pouco nos empolgou, visitar mais algumas vinícolas e aproveitar que as passagens aéreas para o país andino andam muito em conta – mais baratas que destinos do nordeste brasileiro. O saldo desse último passeio foi relativamente baixo, ou seja, a viagem teve aspectos muito positivos, mas também teve suas surpresas pouco razoáveis. No geral, saímos mais felizes do que da primeira vez, o que certamente nos fará voltar à cidade, e principalmente ao país.

De negativo devemos destacar a taxa bizarra por utilização do cartão de crédito internacional que existe e incomoda. Ademais, Santiago não é lá uma cidade tão barata e a cena do vinho e da cerveja não saltam aos olhos com o destaque esperado, sobretudo em relação ao primeiro. Mas a principal decepção foi: se por um lado muito positivo existe um cinturão bem bacana de vinícolas próximas à capital, por outro o enoturismo é caro para passeios comuns – sobretudo para um casal que já entrou em mais de cem vinícolas pelo mundo.

Assim, o que nos restou em termos de visitas foi escolher uma das opções e embarcar. E a despeito de todas as minhas considerações, e de aspectos que passaram a ser positivos para quem viajou sem esperar muito, fizemos um passeio muito bacana. Há cerca de uma década atrás já havíamos conhecido a Concha y Toro, portanto, essa ficou de fora das opções. A partir daí, escolhemos com base em algo muito especial: pegar o excelente metrô da capital chilena nos levaria perto de nosso destino. Assim, ao lado do hotel embarcamos na Linha 1, vermelha, e poucas estações depois já estávamos baldeando para a azul, e de lá rumamos para os arredores de Santiago. Descemos na estação Quilin, onde um shopping muito grande oferta estrutura para, calmamente e após uma caminhada mínima, pedirmos um Uber. De lá até a Cousiño Macul, nossa escolhida, não devem ter dado 10 minutos, e provavelmente ficou por algo aquém de R$ 15. Na volta, sem motivação para o metrô, pagamos menos de R$ 45 para rumarmos diretamente ao nosso hotel. Fácil demais.

Para fazer o passeio foi necessário realizar uma reserva pela internet, no portal da vinícola. Burocracia zero, apenas um cadastro e a possibilidade de realizar o pagamento no local. Tudo muito fácil, mas por pessoa se gastam mais de R$ 100 para o que existe de mais simples – história, caminhada e degustações.

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A chegada foi simpática, e o chileno é generoso na sua forma de receber. Na portaria nos indicaram o caminho e dentro da propriedade a caminhada foi agradável, a despeito da chuva que se anunciava. Ao chegar na recepção, uma quantidade expressiva de pessoas aguardava o tour, e ao me identificar no caixa, paguei a taxa, recebi adesivos que colamos na roupa e aguardamos o chamado. Antes de um sino tocar foi possível observar estruturas, conhecer algumas peças históricas e degustar um vinho rosê que estava BEM difícil. A experiência nos remeteu aos rótulos baratos da vinícola que vemos nos supermercados brasileiros e confesso que fiquei desanimado. Ponto positivo, apenas, para a taça com a marca da casa que poderia ser levada depois do passeio. Veremos o que foi feito com o adereço.

Quando os grupos foram montados, algo nos chamou a atenção. Uma massa de turistas seguindo o guia que faria o tour em espanhol, incluindo diversos brasileiros, e apenas um simpático casal, maduro, com uma filha adolescente atrás do funcionário que prometia o roteiro em português. Por mais que seja bacana treinar o idioma nativo e viver a experiência, nos pareceu óbvio que ganharíamos muito aderindo ao coletivo mais restrito. Estávamos certos.

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A visita é agradável, e a matriarca que fez a casa ganhar dimensões expressivas há muitas décadas, Isidora, tem sua história contada de uma forma muito interessante – uma mulher poderosa, cuja biografia parece valer a pena. O casal que estava conosco era extremamente agradável, a filha era ótima, e nosso guia, o brasileiro Jairo, entendeu que todos gostavam muito do assunto e merecíamos atenção especial. Assim, findado um roteiro de mais de uma hora, com dois ou três vinhos simples e razoáveis degustados pelo caminho, ele resolveu nos agradar. A conversa se alongou e conhecemos mais quatro vinhos de preços muito mais altos, algo que só foi possível ofertar graças ao reduzido contingente que optou pela língua portuguesa.

Diante da generosidade de Jairo, compramos alguns dos rótulos que nos foram ofertados. Os Finis Terrae branco e tinto se mostraram bons blends que estão em casa, aguardando o tempo certo de consumo. Já o Dama de Plata, Cabernet Sauvignon que bebemos no hotel numa de nossas noites, e é fortemente exportado para os Estados Unidos, se mostrou correto. Ao término do passeio, resolvemos pensar no planeta e devolvemos nossas taças. Na verdade, a minha ficou na vinícola, e a da Ka foi para a filha do amável casal de brasileiros, que um dia esperamos visitar em Parati, onde moram.

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