Deixamos o Porto numa simpática manhã de domingo, era dia 03 de abril. Em quarenta minutos é possível pegar o Metrô – os portugueses falam “métro” – nas proximidades da ribeira, e chegar ao aeroporto. De lá foi levantar o carro alugado, acomodar as malas e seguir em frente pelas estradas secundárias – mais pitorescas, promotoras de surpresas turísticas e baratas.

As duas próximas noites seriam em Valença, sentindo os encantos da região do Rio Minho e sua dedicação absoluta aos mais perfeitos vinhos brancos para o meu paladar: os Alvarinhos. Sei que existem coisas mais elegantes e por vezes sofisticadas, mas é impossível ignorar a força que essa uva atinge nesse local do planeta.

Escolhemos um hotel rural para termos paz, e antes de chegarmos lá passamos em Viana do Castelo e Ponte de Lima, dois destinos bem turísticos que a Ka não conhecia. A Quinta do Caminho, nossa hospedaria, é próxima à cidade murada de Valença, num pedacinho de campo muito especial e bem tranquilo. Seu proprietário é extremamente simpático, atencioso, e nos deu um upgrade de quarto que passou a incluir uma vista deliciosa para uma pequena floresta, um terraço muito gostoso e uma banheira com direito a janela e vista. O que mais seria necessário? Comer e beber.

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O restaurante do hotel é arrendado por um empreendedor que nos ensina muito. Ele faz compras, prepara as mesas, serve, nos dá dicas turísticas, conta boas histórias e indica vinhos. Luís é uma figura atenciosa, amável, simpática e generosa.

Ficamos felizes ao saber que o restaurante desse aconchegante hotel estaria aberto para o jantar. Tomamos banho, nos preparamos e fomos ao local. Ambiente muito bem decorado e tranquilo. Numa mesa um pouco distante um outro casal de brasileiros, um pouco mais velho, se divertia.

Escolhemos os pratos, e tudo o que comemos estava extremamente bem preparado. Bacalhau e bochecha de porco foram as pedidas. E para beber? Alvarinho. E eu tinha certeza de que com um pouco de corpo seria possível chegar a bons resultados em termos de harmonização com as iguarias escolhidas. Luís concordou, e quando fiquei entre dois rótulos ele cravou: “percebo que entende algo de vinho, e entre esses dois eu sugiro o Regueiro Reserva, onde eu tenho margem menor de lucro, mas sei que te agradarei mais”. Há dúvidas sobre o que fazer? Para mim, nenhuma. Sobretudo quando a pessoa que faz a indicação diz: “a casa é logo aqui pertinho”. Adoro beber algo no lugar onde aquilo é produzido, pois em regiões produtoras de vinho há tendência a se respeitar a proximidade entre culinária e a bebida que ali se faz. No site da Quinta do Regueiro seu Reserva Alvarinho é descrito como encorpado para os padrões de um branco, com frescura e acidez equilibradas. Para harmonizar são sugeridas carnes, peixes e mariscos, ou seja: acertamos.

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No dia seguinte, livres pelo mundo e dispostos a rodar de carro pelas cidades da região, começamos nossa visita por voltar a Monção – que conhecemos em dezembro de 2017. Dia de muito sol, a ideia era sentar na praça e curtir a paz. Foi delicioso. Na sequência, em direção a Melgaço, entramos por pequenas ruas para procurarmos a Quinta do Regueiro. O local estava fechado, mas sem muros ou grades fui entrando a pé. Olhando, curioso, até ser abordado por um simpático rapaz da minha idade. Quando ele me perguntou o que eu desejava, observei que havia bebido um Regueiro Reserva na noite anterior e ficado feliz com o resultado. Foi o suficiente para que Paulo, um dos proprietários, se apresentasse e abrisse seu escritório, onde vende algumas de suas garrafas. A conversa foi mais longa do que eu imaginava e muito agradável. Pudemos saber mais sobre a sua produção e demais curiosidades sobre a vinícola. Ele e a Ka falaram sobre empreendedorismo e enoturismo, e eu fiquei ali, respirando o cheiro da vinícola que tanto me encanta. No Brasil, o rótulo que bebemos é vendido na Cave D’Or, Sou Mais Vinho e Temporão por algo entre R$ 125 e R$ 150. E para os padrões de preço que praticamos, vale.

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No final da visita informal, inevitável deixar de levar algumas garrafas. E quando perguntei se ele preferia que eu pagasse em dinheiro ou cartão, optou por receber menos euros a trocar minha nota de 50, e ainda nos ofereceu uma garrafa de seu rosê de presente. Ao todo foram três garrafas. Seu Maturado em Barricas veio na mala e vai descansar muito tempo na minha adega. O Reserva que havíamos bebido no jantar e repetimos foi consumido ao longo da viagem, e o regalo. Ahhhh esse rosê estava maravilhoso, na cor e na boca. Lembrou os vinhos mais simpáticos e refrescantes da Provence. Incrível e surpreendente.

O dia terminou com a gente cruzando o rio Minho numa ponte adiante de Melgaço, entrando na vizinha Espanha e conhecendo a parte mais ao sul das Rías Baixas, onde também se produz Alvarinhos (Albariños, acá). Em As Neves, cidade galega, chegamos a passar por um hotel que produz seu vinho, mas apenas comemos algo, sem qualquer aventura enoturística. A tarde terminou na cidade murada de Valença, onde revisitamos o simpático e aconchegante comércio local numa segunda-feira, bem diferente do final de semana que lá passamos em 2017 e estava abarrotado. Viagem tranquila, deliciosa e inspiradora. Saúde.