Viognier é uma casta branca com a qual se produzem vinhos aromáticos. A coloração costuma ser de um amarelo mais intenso, e não é incomum que sejam produzidos com passagem por barrica de carvalho, mesmo que parcial. De acordo com o portal da importadora Mistral, é comum que tenham alto teor alcoólico e aromas de damasco, pêssego e flores, o que naturalmente pode guardar absoluta relação com o terroir onde é plantada. Sua mais emblemática região é o norte do Rhône, na França, mas interessante notar como tem sido plantada no Novo Mundo. Não é difícil encontrar vinhos 100% viognier, mas alguns tintos têm percentual mínimo da uva, e nessa condição me recordo de ter bebido o uruguaio Alto de la Ballena, onde predominava a tannat, sem grandes encantos. A casa produz um 100% viognier, mas esse eu não conheço.

Eno Eventos

Fonte: Eno Eventos

Meu primeiro contato com um vinho puramente feito dessa uva se deu por uma indicação certeira que obtive numa das boas lojas de Puerto Iguazu, cidade argentina da tríplice fronteira que tem em nossa Foz do Iguaçu o emblema maior. A localidade é pequena e possui um conjunto de estabelecimentos que vendem vinhos muito bacanas – já falamos sobre isso aqui. Em 2010, quando estive lá pela primeira vez, pedi dicas ao vendedor e sai satisfeito com todas elas. Um branco veio na sacola: o Escorihuela Gascón. Mais encorpado que a média dos brancos que costumávamos beber (13,5%), o rótulo caiu em nossas graças, e ao longo de poucos anos bebemos cinco garrafas que em 2011 eram compradas a cerca de R$ 45 na Grand Cru – o vinho continua lá, mas o preço mais do que dobrou, infelizmente.

escorihuela

Fonte: Q Vinho

Desde então bebemos um total de 13 garrafas onde predominam a casta, e por incrível que pareça apenas duas vindas da França. A que nos agradou foi um Jean-Luc Colombo “La Violette” que tomamos no jantar de aniversário da Ka em 2012 em um romântico bistrô paulistano. A Fortant de France – Terroir de Collines que compramos na Wine (R$ 60) se mostrou exageradamente doce. Os demais viogniers que bebemos carregam consigo uma rivalidade interessante: argentinos e uruguaios. Ou seja: o Novo Mundo está se efetivando na produção de vinhos a partir dessa bela casta e a América do Sul está bem presente nesse cenário.

43352

Fonte: Cellar Tracker

Ao todo, se desconsiderarmos as repetições, conhecemos três uruguaios e dois argentinos. Los Hermanos levam vantagem no quesito regularidade, e os uruguaios se destacam individualmente. Assim, o que não faltam aqui são boas opções. Da Argentina, soma-se ao ótimo e intenso Escorihuela Gascón, o simpático, leve e honesto Zapa, que bebemos esse ano e compramos a R$ 47 na Cavatappi Enoteca, ou seja, por menos da metade do que se cobra pela outra garrafa. Justiça seja feita, trata-se de um vinho mais simples, mas que entrega uma boa experiência, sobretudo quando bebido na companhia de algo leve do mar.

Zapa

Já entre os uruguaios, duas experiências pouco destacáveis. O Catamayor reserva bebemos em 2013, e antigamente era encontrado na World Wine. Já em 2018, foi a vez do Pueblo del Sol reserva, adquirido por R$ 35 na Wine. Ambos não nos remeteram a grandes satisfações, pelo contrário: se mostraram vinhos bem comuns. Em contrapartida, o Garzón Estate estava muito bom, reforçando sensação de que essa vinícola produz brancos maravilhosos – nunca tomei um que não me encantasse. No caso de nossa uva de hoje, tão bom quando o raro Campotinto Viognier, feito em número mínimo de garrafas de forma quase experimental e bebido diretamente na vinícola. Curioso que geograficamente esses dois uruguaios são feitos em lados rigorosamente opostos do pequeno país. O primeiro a leste, pertinho de Punta de Este e o segundo a oeste, em Carmelo. Nenhum é vendido no Brasil e as experiências são memoráveis.

Estate-VIOGNIER-2017-2

Fonte: Vinícola

Pra começar a sua relação com essa uva escolha o Zapa. Ele cumpre bem a missão, com maior leveza, e tenha certeza que se gostar valerá a pena conhecer os uruguaios e argentinos mais elaborados. Saúde!

viognier-diferentes (1)

Fonte: Papo de Vinho