Saudades de viajar pelo mundo? Sim. Não restam dúvidas. Para atenuar o “sofrimento” as memórias ajudam a enfrentar o tempo. Talvez escrever sobre isso contribua para colocar um sorriso na face. Sorte nossa que em fevereiro do ano passado ainda deu tempo de cruzar o Atlântico na diagonal e conhecer Valência e seus arredores. Já falei sobre isso aqui: que cidade genial!

O roteiro do passeio terminaria pela Andaluzia, num festival incrível de Flamenco em Jerez e numa noitada de jazz em Sevilla. Mas não é sobre isso que escrevo. Na manhã de um sábado deixamos o excelente hotel Ramirez rumo à estação de trem para “levantar” o carro que havíamos alugado em Valência. O simpático atendente da locadora nos deu a opção: o reservado Golf ou uma SUV da Peugeot, a 3008. Guiaríamos por mais de 1.500 quilômetros nos próximos dias, não tive dúvidas e optei pelo francês. Perfeito. E no comecinho da tarde, com bastante calma, estávamos em Requena, cerca de 80km de nossa origem. Mas por que uma cidadezinha tão pequena num trajeto tão especial de paradas maravilhosas? Pra variar: vinho.

Utiel-Requena é uma denominação de origem que utiliza a uva Bobal em suas preparações. Desde nossa primeira passagem pela Andaluzia compramos vinhos dessa casta e gostamos. Conhecer é uma forma de acentuar essa alegria. Para além da visita que uma comerciante de Valência nos arranjou para o domingo seguinte, ainda daria tempo de conhecer a atração Cuevas de la Villa (foto), alguns metros de túneis onde antigamente se produzia e estocava vinho. O passeio foi legal, e quando saímos já estava escuro. Requena, para nós, se resumiu a uma praça onde estacionamos o carro, nos hospedamos no correto Doña Anita, conhecemos uma loja, visitamos as cuevas e jantamos no simpático Meson La Villa. Uma praça sem qualquer charme, mas repleta de coisinhas amáveis. Dentre elas uma grata surpresa.

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Fonte: portal da cidade

Saindo das Cuevas notamos na parte mais baixa da inclinada praça um movimento de gente com caixas nas mãos. Aquele típico “conversê” de despedida. E a Ka não teve dúvidas: “amor, aquilo é uma vinícola”. Eu duvidei, de longe me parecia mais um buffet ou algo parecido. Nos aproximamos, não custava nada. Eram apenas vinte passos. Golaço: estávamos diante da Bodegas Murviedro. Com forte apelo para a questão da seda – um de seus principais vinhos se chama Sericis, sedoso em latim – e inspiração suíça, só nos faltava a boa notícia. E ela veio. Estavam abertos e dali alguns minutos partiria a última visita do dia – na verdade a primeira do começo da noite. Um enoturismo numa pequena casa com muita história feito de forma extremamente simpática por uma moça amável a qual me escapa o nome mais de um ano depois. Tiramos diversas fotos, conhecemos mais algumas instalações das cuevas e no final uma degustação animada com intensa conversa entre os participantes – a imensa maioria espanhóis.

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Fonte: vinícola

Olhando o site da casa não me lembro de ter tantas opções de rótulos quanto ali estão demonstradas. Provamos vinhos gostosos, comprei um rosê pela cor pálida genial que foi uma decepção e ganhamos, por conta da visita, duas garrafas do Bobal de entrada – o Pugnus. Os dois ficariam pela viagem, abertos e bebidos em quartos de hotéis com guloseimas locais. O vinho estava super correto para um rótulo de entrada. Os exemplares tinto e branco do Sericis estavam na degustação também. O primeiro da querida Bobal, o segundo da contestável Merseguera – trato-a assim porque eu gostei, mas a Ka nem tanto. Não olhamos para o Monastrell, e esses dois vieram pro Brasil. Nos últimos dias tivemos duas gratas surpresas com o Bobal. O encontrei na Evino por R$ 120,00 na safra 2017. Comprei, pois na bodega paguei algo em torno de 12 euros. E para minha grata surpresa, no feriado bebemos a garrafa trazida da Espanha, um 2016. Estava delicioso. Um vinho repleto de especiarias que se casou perfeitamente com um queijo colonial feito com muita pimenta verde. Visitar, beber, encontrar o vinho no Brasil e ter condições de adquiri-lo sem se sentir explorado é realmente algo muito especial. Valeu…

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Fonte: Vinícola