Pense num local que é ao mesmo tempo: uma produtora de azeite, uma vinícola, uma escola de gastronomia, um espaço de eventos, um ponto que conta a história do vinho desde o ano de 804, uma hospedaria e um restaurante. Agora pense que esse local é administrado por uma família simpática, que recebe bem seus clientes, que os envolvem em experiências gastronômicas únicas. Pra completar, busque entender o que é Carmignano. Procure no Google, note que estamos falando de um local próximo à Florença, ao lado de Empoli, e por isso: na Toscana,, Itália. Pra fechar com chave de ouro: imagine um dia nublado, com neblina, uma cidadezinha simpática, a fumaça saindo das chaminés das poucas casas e raros restaurantes exalando o buquê de comida local para dias frios. Só de pensar vem o gosto na boca, e o sabor do vinho a ser degustado.

Era fevereiro de 2014. Saímos de Pisa depois de uma deliciosa noite em um pequenino hotel cujo atrativo maior é o restaurante. Tínhamos uma visita marcada para às 12h00 nesse local mágico, com promessa de um almoço incluso no roteiro. Chegamos cedo demais, e para não parecermos ansiosos ou grosseiros fomos dar uma volta na pequena e simpática cidade. Quando voltamos, uma das proprietárias nos esperava em seu escritório. Um frio cortante, um fevereiro chuvoso. De início tivemos a sensação que incomodávamos mais do que éramos bem vindos. Mas o sentimento logo se desfez. Fomos levados à cozinha, lugar que família tradicional italiana não dispensa nunca. Três casais preparavam o almoço sob orientação de um simpático chefe. Fomos apresentados ao grupo como visitantes que provariam a comida. Um casal de holandeses, outro norte-americano e mais um britânico. O Brasil sempre desperta surpresa e rende sorrisos. Estávamos há meses da Copa do Mundo, o tema foi lembrado. O chefe perguntou o que fazíamos, a Ka e ele trocaram algumas dicas preciosas, e ambos se entusiasmaram. Tudo regado a risadas e um vinho rosado muito elegante à base de Sangiovesi, a uva mãe da região; Canaiolo, a uva que costumeiramente aparece combinada à primeira e; a francesa Cabernet.

 

Rosado

 

Poucos minutos depois e fomos para a sala comer o que os alunos haviam preparado. Notamos que a casa vende experiências gastronômicas de um ou pouco mais dias. Ficamos encantados. À mesa toda a família, incluindo o enólogo e a matriarca, uma senhora de bastante idade que afirmava ser mais feliz por poder receber em sua casa, semanalmente, pessoas de todos os lugares do mundo que a ensinavam a ser mais culta e viver mais. Uma lição.

O almoço era bem típico, quatro, cinco pratos de saladas, massas e carnes, fechando com um maravilhoso doce e o café. Ao longo de todo o processo não faltaram vinhos da Capezzana, a casa que nos recebeu, incluindo o fechamento com ‘Il vin Santo’. A propriedade é maravilhosa. Dentre várias provas, algumas de vinhos que estavam sendo testados, tomamos dois tintos fantásticos: o Trefiano, cujo nome faz alusão a uma vila de 1.570, é um blend de Sangiovesi, Canaiolo e Cabernet que passa 16 meses em tonéis e; o Ghiaie della Furba, cujo nome menciona o terreno e as condições do ambiente em que suas uvas são plantadas (algo do tipo ‘cascalho de aluvião do fluxo Furba’ em tradução livre), é um blend de castas francesas como Cabernet, Merlot e Syrah que passa 15 meses em barrica. Duas belas joias que trouxemos para o Brasil depois de uma encantadora visita pela casa, terminada no pequeno restaurante da propriedade, por volta das 17h00, com céu já escuro, frio mais intenso e sensação de que no verão tudo aquilo deve ter outra vida, igualmente mágica e interessante.

 

Trefiano Furba

Fotos retiradas do site da casa.