Dia 15 de maio completei 46 anos. Como de costume a Ka me surpreende com algo incrível de nossa cozinha. São incontáveis almoços ou jantares de comemoração que me deixam absolutamente encantados. Esse ano nos preparamos para ficar em casa, como manda a pandemia, em um dia absolutamente a dois dedicado à gastronomia. Começamos com o Nordeste à mesa, num café com tapioca e queijo de coalho. Delícia.

Mas a história do vinho começa no almoço e termina no tardio jantar com iguarias geniais e rótulos raros. Iniciamos as comemorações no início da tarde com um Cave Amadeu, espumante brasileiro que em suas versões brut e brut rosê rendem combinação preço x qualidade positiva. Mas o dia era especial, e abrimos o espumante Laranja, feito sob esse método com a uva Chardonnay. Absolutamente incrível, premiado, bem pontuado e digno de todos os elogios. Tão acima da curva que rapidamente fui procurá-lo nas lojas virtuais para nova compra e me deparei com repetidas páginas estampando a palavra ESGOTADO. Perfeito… Só espero que estejam providenciando novas safras. Porque vale cada gota. A companhia não podia ser mais perfeita: crisp de lemon & pepper com salmão e creme azedo. E fechamos com lagosta na manteiga, acompanhada de um Portobello com queijo de cabra. O vinho deitou e rolou, a comida estava divina – confira as fotos no perfil do @MisturinhasdaKa no Instagram.

Laranja

Fonte: Vinhos Nacionais – loja onde o comprei por R$ 77,00

A sobremesa, já com o céu escuro, foi inigualável. Uma pera ao forno com queijo azul polonês, noz pecan e mel. Além de algumas fatias de queijo Cenerino, coberto de cinzas vegetais e muito gostoso. Essa combinação toda para recepcionar um Sauternes 2008, comprado diretamente na loja dos produtores dessa pequenina cidade francesa que visitamos em 2012. Pergunte: “mas você guarda garrafas em sua adega por quase dez anos?” Óbvio que sim. Aqui em casa bebemos seguindo o que o produtor manda, ou seja: o que existe de melhor tem que ser bebido na hora ideal. E o premier grandcru classé “Chateau Lafaurie-Peyraguey” estava absolutamente soberano. Desde o primeiro instante até a mescla entre garfadas e goles delicados. Um espetáculo de vinho e de harmonização. Aqui algo que a Ka faz como poucas pessoas: ela efetivamente cozinha para o vinho.

sauternes

Fonte: Ideal Wines – meramente ilustrativa, a safra bebida era 2008, meia garrafa, que em 2008 já estava classificado como 1º grandcru classé

O jantar foi servido tarde, e já estávamos dando sinal de plenitude. Não fossem as porções comedidas e não teríamos chegado a esse capítulo. O ano de pandemia serviu para eu tratar com muito a carinho a ideia de “coma de tudo”, pouco. O preparo começou dias antes com pedaços de rabo de boi que descansaram no tempero. Panela de pressão, muitas Misturinhas, carne devidamente desfiada, gatos miando desesperadamente em volta afetados pelo odor incrível, um caldo de funghi e uma massa absolutamente perfeita. Parênteses para esse macarrão: Cucina Miareli, de Minas Gerais, presente de casal querido, e a Itália vem à boca em poucas garfadas. Tempo de cozimento de UM minuto e está pronto. O molho, a massa, as lascas de rabada desfiadas e um vinho francês do Rhône. Mas não foi qualquer um. Comprado na mão do produtor que nos hospedou em 2018 na cidade de Narbonne, o Domaine La Ramade Cuvée Julie foi provado na propriedade e seus 14,5% de teor alcóolico nos encantou pela mescla misteriosa de potência e delicadeza. Aparentemente fora do catálogo da vinícola, estava genial. Feito de combinação característica do sul da França, com Syrah, Mouvedre e Grenache, entregou o esperado depois de uma hora de aberto. Uma bebida mágica, sedosa, perfeita para harmonizar com a gordura elevada da carne que preparamos. Um vinho repleto de sabores marcantes, sendo a pimenta branca algo bastante presente. E assim completei mais um aniversário. Sob a magia da enogastronomia da chef que eu chamo de Amor faz quase 17 anos.

Rhône