Faz quinze dias escrevi aqui algo sobre um furdunço enogastronômico que fizemos na casa de um grande amigo em homenagem ao seu novo estado de saúde. Grandes vinhos, boas risadas e ótimas descobertas. Nesse tipo de evento, como de costume, as pessoas vão ficando bêbadas e começam a prometer coisas, combinar passeios, garantir eventos que nem sempre se consolidam. Mas aqui a coisa funcionou. Veja só que bacana.

Um dos casais disse que ao lado da loja da Grand Cru da esquina da Al. Tietê com a R. Bela Cintra, nos Jardins, em São Paulo, funciona um restaurante muito simpático. Os locais têm conexão interna entre si, ou seja, quem está na loja ou no restaurante acessa o vizinho por um corredor interno. Ótimo. Mas tem muito mais. Sócios do clube da loja têm o direito de comprar vinhos com desconto e beber sem qualquer cobrança adicional no restaurante. Aí ficou bom, né? Sobretudo porque o casal que comentou o assunto, obviamente, é sócio.

Mas quero deixar isso aqui ainda melhor. O Barletta organiza periodicamente um festival de Jazz. E na semana do dia 21 de novembro ocorreu a segunda edição do programa. Resultado: lá fomos nós, logo depois da estreia do Brasil na Copa do Mundo.

Numa programação de cinco noites fomos brindados com o excelente Ricardo Baldacci Trio. Algo muito especial, muito bem tocado, com carisma e tecnicidade. Excelente escolha para quem sente falta de um ambiente extremamente acolhedor, que lembra aqueles pequeninos clubes de jazz de alguns filmes. O restaurante é pequeno. A comida é gostosa. E a presença da música eleva demais o nível do programa. Para completar, era semana de Black Friday na loja, o que ajudou muito.

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Estávamos em cinco pessoas, sendo que quatro consumiram vinhos. E bebemos duas excelentes garrafas do universo sul-americano, praticamente um clássico do Mercosul. Começamos com um argentino, rótulo especial da respeitada Zuccardi, o Tito. E fechamos com um Pizzorno Reserva, uruguaio muito agradável da casa localizada em Canelones, pertinho da Castillo Viejo e da Pisano. Da primeira vinícola já provamos diversos rótulos, mas certamente este foi o mais sofisticado. A segunda casa eu conheci pessoalmente com dois amigos, e este vinho é um velho conhecido de minha adega, facilmente encontrado na ótima loja da área de embarque do aeroporto de Montevideo.

E qual estava melhor? Pois é. A resposta aqui estará absolutamente associada ao gosto pessoal de cada apreciador, pois sem dúvida alguma são dois belos rótulos. A despeito de descontos, estamos falando de bebidas caras, na Grand Cru, acima de R$ 250 – o Zuccardi estava em excelente promoção. Pois bem. O argentino foi o primeiro, e entendo que poderia ter repousado por muitos anos mais na garrafa. Ainda assim se mostrou potente e acompanhou bem algumas entradas. Com passagem de 12 meses por carvalho francês, é um vinho intenso, equilibrado e muito benfeito. Tem características que me encantam atualmente em vinhos desse país: o grau alcoólico elevado, na casa dos 14,5%, e a Malbec mesclada com outras castas. Aqui são dois terços da uva mãe argentina, acrescida de Cabernet, Ancellotta e Caladoc – esta última um cruzamento da Malbec com Garnacha que despertou minha curiosidade. A penúltima, italiana, tem me surpreendido na capacidade de se casar bem com a Malbec na Argentina. Bela escolha.

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Fonte: Vinos Hermanos

O uruguaio, por sua vez, tem 12 meses de carvalho americano. Eu prefiro o aporte francês, mas com a Tannat a madeira dos Estados Unidos casa perfeitamente. O desafio aqui é que o vinho pede muito por comida, e por isso fui ao cardápio mal-intencionado, buscando o potencializar demais. Acertei a harmonização de maneira bacana com um risoto de linguiça feito a base de vinho tinto. Durante a refeição ele ficou exuberante, mas sem o arroz pareceu um pouco exagerado.

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Fonte: vinícola.

Resultado do clássico: música perfeita, restaurante gostoso que será revisitado, sobretudo no seu festival musical, companhia geniais e… Bom… Vamos lá: sozinho ou no conjunto da obra o argentino ganha. Mas com a comida o uruguaio se sobressaiu como a bebida mais gostosa da noite. O restante é com você. Saúde!