Óbvio que para responder SIM à pergunta acima é absolutamente essencial que se force muito a amizade e a explicação à luz do que vivemos no Brasil. Mas como esse blog é um espaço para textos leves e sem qualquer compromisso científico mais elaborado, vou tentar fazer uma conexão entre a data e a nossa bebida predileta.

Em termos históricos pessoais, eu poderia lembrar dos carnavais de 2007, 2014, 2019 e 2020. Olha que coisa mais maravilhosa: eu e a Ka fomos para as Serras Gaúchas e nos esbaldamos em espumantes no Carnaval de 2007. Em 2019, no mesmo local e com um casal querido de amigos, a vez foi dos tintos. De quebra, fomos para a Itália e visitamos a Toscana em 2014, e para a Espanha em 2020, aos 48 minutos do segundo tempo da segurança pré-pandêmica, e visitamos a região de Utiel-Requena. Genial.

Chozas

Fonte: arquivo pessoal – Chozas Carrascal, casa visitada no carnaval de 2020

Praticamente todas essas viagens estão perdidas em textos espalhados por este blog. Mas como esse ano a coisa vai ser mais suave, entendo que buscar uma relação mais conceitual seja possível. E encontrei curiosidades em diversos sites visitados em uma pesquisa muito rápida.

No Brasil, assim como em alguns outros países da América Latina, em especial a Colômbia, o Rei Momo é uma figura bastante associada aos festejos e às farras. Mas quem foi Momo? Há quem diga que sequer homem era. Teria sido uma divindade, filha da Deusa Nix, que personificava o sarcasmo e a ironia. Teria sido expulsa do Olimpo e interpretações perdidas na história a trariam sob a figura masculina. Momo foi incorporada, ou incorporado, como personagem de algumas de suas comemorações associando-se às festas de Dionísio, deus grego do vinho e da farra – por que será que associam vinho à farra, eu não sei (contém ironia absoluta).

Momo divindade

Fonte: Wikipédia – Divindade grega Momo

Pois bem, essa seria a nossa forma de aproximar o Carnaval de nossa bebida predileta. Mas se Momo, representado na atualidade como um homem gordo, símbolo da fartura, está associado à Dionísio e ao vinho, o que o Carnaval teria a ver com tudo isso? Interpretações não faltam, mas tendo em vista uma lógica de cunho mais cristão a data estaria relacionada a algo que nos remete ao latim “carnis levale”, ou “retirar a carne”. O jejum realizado na quaresma tem relação com a necessidade de controlarmos ímpetos mais pecaminosos. Assim, em tese, a véspera do controle geral seria um instante de altíssima intensidade e descontrole. O Carnaval precede a quaresma, correto? E esta antecede a Páscoa, certo? Tudo se explica para quem entende um pouco de toda essa história.

A partir disso, o Carnaval associado ao vinho nos convidaria a um mergulho no universo dionisíaco e seria sucedido por um descanso “hepato-espiritual”. Sinceramente já deixei de beber em alguns anos entre o Carnaval e a Páscoa. A última vez que isso ocorreu deve ter sido, mais ou menos, entre 2012 e 2013, e sinceramente até mesmo minha mãe, que não gosta que eu consuma álcool, disse que eu estava chato, mal-humorado e esquisito. Assim, com moderação, vou passar meu Carnaval tranquilo, sem grandes aventuras, sacando algumas rolhas e relembrando que até mesmo uma das marchinhas mais tradicionais do nosso festejo tem sua letra nos remetendo a garrafas esvaziadas em meio às festas. Saca-Rolha, que em alguns lugares é chamada de “As águas vão rolar” é de 1954 e foi composta pelo casal Zé da Zilda e Zilda do Zé… Diz a letra: “as águas vão rolar, garrafa cheia eu não quero ver sobrar, eu passo a mão no saca, saca, saca-rolha, e bebo até me afogar”.

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Fonte: Câmara dos Deputados – compositores da citada Marchinha

 

Obs. Provavelmente as rolhas citadas na marchinha devem estar associadas a garrafas de aguardente, bebida infinitamente mais popular e associada ao gosto brasileiro. Mas, sinceramente falando, cada um usa o saca-rolhas para sacar o que puder e preferir, não é? Bom Carnaval…