Num Reveillon que passei com a Ka em Santa Catarina fomos levados a uma economia que nos custaria bastante tempo. O voo para Floripa era uma fortuna, para Navegantes outra. Mas tínhamos um apartamento genial emprestado na capital catarinense, e nada nos impediu de voar para Joinville e de lá, de carro alugado, rumar para a praia. A ida foi suave, os dias na ilha foram geniais, mas na hora de voltar armou uma chuva imensa e foram horas, muitas horas de trânsito na BR para atravessar, principalmente, o caos de Balneário Camburiú. A partir disso peguei um pouco de bronca daquela cidade que avistei da rodovia, repleta de prédios imensos e exagerados.

Um dia isso tinha que passar. Sobretudo porque tenho uma relação maravilhosa com o estado que conheço bem demais graças aos amigos e à educação política. Faz algumas semanas recebi um convite muito bacana de um professor amigo: quer palestrar na Semana da Graduação em Administração Pública da UDESC? Quem no campo de públicas não quer falar nessa escola simpática e tradicional? Tenho tanta gente querida que passou por lá que aceitei na hora. Voei segunda cedo e cheguei logo em Navegantes. Mais um pouco de carro, balsa atravessada e chegamos ao hotel.

O centro da cidade me impressionou pelos edifícios imensos, e a despeito de nova rodada de chuva, dessa vez positivamente. O exagero das construções eu vou deixar de lado, mas aquilo rende um comércio pujante e locais impressionantes como restaurantes, bares e cafés – para além de uma praia bem legal. Coisas muito bacanas, bem estruturadas e montadas, mostrando tendências bem atuais desse universo sobre o qual aprendo muito com a Ka. A cidade me lembrou o ar de Punta del Este, mas confesso que não sei se estou exagerando, ou atenuando. O fato é que curti demais a atmosfera de uma segunda-feira de primavera. Tanto da zona central, quanto da praia Brava, na divisa com Itajaí – com lugares elegantes e edificações menos acentuadas.

Durante a longa caminhada pelo calçadão da praia central as conversas com meu anfitrião convergiram pro vinho. No comércio encontrei quatro lojas ao longo de todo o dia. A Decanter, que tem filial aqui em São Paulo eu deixei de lado, pois queria conhecer algo novo. Assim, fui surpreendido positiva e negativamente com algumas surpresas. De ruim o fato de que definitivamente o ótimo vinho catarinense é raro no próprio estado. Tristeza. O máximo que vi foram os rótulos da Villa Francioni e mais alguma coisa da Pericó e San Michele. Não passou disso, e os preços estavam bem acima do razoável. Paciência.

Mas isso não tira o brilho dos achados de três outros endereços que merecem visita. O primeiro foi o Armazém San Miguel, localizado no sofisticado e agradável Passeio de mesmo nome, uma galeria ao ar livre com muitos restaurantes e bares descolados. Por lá não encontrei grandes novidades, mas tenho a certeza que se precisasse de algo para me agradar encontraria.

Em seguida veio a Renabras Bebidas, pela qual confesso que não dava muita coisa ao passar pela vitrine. Para além do atendimento muito simpático encontrei bebidas que aguçaram demais minha curiosidade. Não sabia que a Miolo estava produzindo Alvarinho, fazia tempo que não encontrava um húngaro a base de Furmint sem as uvas para sobremesa, achei californianos e neozelandeses bem simpáticos de Pinot Noir e tantas outras coisas que me deram vontade de fazer uma compra grande. No final acabei levando, por pouco mais de 70 reais, o Quinta Seival – Castas Portuguesas, tinto da Miolo, uma combinação de Touriga Nacional e Tinta Roriz (Tempranillo) que nunca havia visto por menos de 90. Um bom negócio numa simpática loja!

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Fonte: Vinícola

Por fim a mais surpreendente das visitas. O camelódromo, endereço de escândalo de apreensão de bebida contrabandeada em junho de 2015, foi indicado como um ponto interessante para conhecer. E lá fomos nós, atrás de uma importante igreja, a Paróquia Santa Inês. Encontrei corredores estreitos semelhantes àquelas galerias de chineses em São Paulo e confesso que quase desanimei. Lojas e mais lojas de eletrônicos, games, capinhas de celular etc. Quando me aparece numa esquina a Adega Raphael, repleta de prateleiras, gavetas e obviamente vinhos. Algumas coisas raras, de uvas bem pouco óbvias. A conversa com a moça que me atendeu foi muito agradável, e loco encontrei algo que me despertou a curiosidade e coube no meu bolso. Não conhecia a diversidade de vinho da Las Perdices, uma cada argentina em Mendoza, e me deixei surpreender por um Riesling que parece ser descrito como mais mineralizado que a média. Pronto: por cerca de 70 reais veio embora pra São Paulo, lembrando que Itajaí é uma zona portuária que serve de endereço para algumas importadoras importantes. Saúde!

Riesling

Fonte: Vinícola

E guarde na cabeça que se for a Balneário Camburiú encontrarás facilmente lojas boas de vinhos e excelentes rótulos. Com um detalhe: para além dessas alternativas não faltam opções. A cidade, rica e concentrada em um território relativamente pequeno, com orçamento anual na casa de R$ 1 bilhão vindo fortemente de IPTU de seus imóveis, tem gente suficiente para consumir vinho BOM.