Viajar é conhecer, experimentar, vivenciar… Enfim, demorei pra entender que viajar é ter contato com a alma alheia, e isso é espiritualmente um absoluto convite ao prazer. Claro que em certas ocasiões algo pode dar errado ou desagradar, mas quando buscamos destino agradável reduzimos as chances de perdermos parte do controle sobre o passeio. Eleger Portugal como destino, para quem gosta de vinho, é tarefa das mais fáceis para quem procura novidades e descanso. Portugal, em termos de destino turístico, é fácil. É leve. É simples.

Sedentos por sair de casa depois de mais de dois anos praticamente confinados e temerosos, chegamos ao Porto, ainda bem cuidadosos, no dia 31 de março. E enquanto alguns alucinados comemoravam o golpe civil militar que impôs uma ditadura ao Brasil, lembramos, ao olhar para a principal ponte do Porto, projetada por Gustave Eiffel, que a torre parisiense que leva seu nome aniversariava – 31 de março de 1889, 100 anos depois da Revolução, essa sim, francesa.

Pois bem. A viagem não se restringiu a essa maravilhosa cidade portuguesa, e muitos dos próximos capítulos contarão nosso passeio. Visitamos vinícolas, fomos a restaurantes, bares, lojas especializadas e mesmo ao comércio de aeroporto – que costumamos chamar de freeshop. Diante de tanta rodagem, a pergunta: onde se compra vinho para trazer para o Brasil, ou mesmo para beber ao longo do passeio, em Portugal?

A resposta, pensando em preço, é absolutamente única e imbatível: no supermercado. Esqueça. Não existe uma alternativa melhor para o bolso. Acredite nisso. Não deixe para gastar euros no aeroporto, lá as coisas são de 10% a 25% mais caras. As vinícolas também não compensam, e tendem a ter apenas os seus rótulos, obviamente, e por vezes mais caros. Os restaurantes e hotéis são baratos em relação ao que pagamos por vinhos em estabelecimentos desse tipo no Brasil, mas obviamente também são mais caros. Para se ter uma ideia, pagamos 16 euros no vinho mais barato de um Hotel Pestana no qual ficamos hospedados pelo interior para bebermos um vinho numa janela com vista deslumbrante aquecidos por uma lareira. Valeu? Sim, pela experiência mágica e fascinante. Mas no supermercado ele custa algo em torno de 6 euros. Percebe?

Existiria alguma alternativa para isso? Sim. As lojas especializadas, que os portugueses tendem a chamar de garrafeiras, sendo a Garrafeira Nacional uma rede bem famosa que adora receber brasileiros e preparar a caixa para o embarque aéreo com garrafas protegidas e tal. Aqui parece haver três compensações: os caras são realmente cuidadosos, é possível reaver parte dos impostos na lógica de retorno que sempre me parece confusa em alguns aeroportos e a oferta de vinhos é muito boa, com coisas raras. Mas é só. Alguém destacaria que esse último ponto é essencial. Perfeito. Concordo. E nesse caso, se você é do tipo que compra vinhos de safras especiais de mais de 100 euros, realmente, o supermercado não é o seu lugar. Mas vamos adiante, pois a maioria absoluta das pessoas vai comprar garrafas que no Brasil custam entre 200 e 500 reais pagando algo como 20 a 30 euros em Portugal. Onde? De novo: no supermercado. A loja também é agradável pela conversa com o vendedor. Eu ficaria um dia inteiro num lugar como esses batendo papo, mas estou falando de compensação financeira, e não de carência “enoafetiva”…

E onde estão esses supermercados? E aqui está o ponto central. Toda cidade tem mercado, algumas pequeninas têm estabelecimentos reduzidos, com poucas escolhas e preços mais altos. Assim, o primeiro segredo: vá ao maior mercado possível, que normalmente estão em shoppings. Raros estabelecimentos desse tipo em Portugal não têm como loja âncora um mercado imenso. Pronto. Mas você, como eu, odeia ir a shopping quando viaja? Perfeito. Entendo e reforço o sentimento. Alternativa: nas rotatórias externas das cidades médias, e nos arredores periféricos das cidades grandes, estão os maiores supermercados. E no caso de Portugal eu optaria por três estabelecimentos. Em Lisboa, e não estive lá dessa vez, existe o Makro. O mesmo que há no Brasil, e conheci faz anos aquele que fica perto de Cascais e Estoril. Fui lá com um primo que é sócio e fiz miséria. Três vezes. Em 2014, 2016 e 2018. Genial. Mas contente-se por poder entrar livremente em duas outras casas maravilhosas: Continente e Pingo Doce. Pronto. Elas parecem concorrer em tudo, e no mundo dos vinhos não é nada diferente – essa concorrência te beneficia de um jeito único. E chegam, em alguns casos, a ter marcas próprias de vinhos bem decentes. Compramos dessa vez um Alvarinho Reserva no Pingo Doce de Boa Vista, bairro do Porto que tem aquele time de futebol que utiliza a camisa quadriculada branca e preta, que estava bem gostoso. Por bem menos de dez euros. Mas a surpresa maior ficou para Braga: a loja do Continente era incrível, num shopping. Eu poderia ter ficado horas na adega do supermercado. Vinhos a perder de vista, com promoções incríveis. Paguei, por exemplo, sete euros em um Paulo Laureano Signature que estava delicioso, assim como o mesmo valor foi gasto em um Terraços do Xisto. Alentejo e Douro, em bom estilo, na mesa por menos de quinze euros. Nessa mesma viagem, não doeu comprar Post Scriptum e Callabriga, por exemplo, dois vinhos intermediários superiores em suas linhas e casas produtoras por menos de doze euros a garrafa. No Brasil, saem na faixa de R$ 400 – malditos impostos! Percebe? Estamos falando de grandes vinhos, de belos rótulos. E não estou aqui falando, ainda, do que existe de mais caro no Continente e no Pingo Doce. Aposte. É aqui… Ao menos em Portugal.

Pois bem. Fica aqui a dica. Seu desafio será: saber o que está comprando, pois esses mercados não têm aquele serviço de venda, bem como você terá que embalar direitinho sua compra na mala a ser despachada. Nada de tentar embarcar com vinho na mão em voo internacional. Cuide bem para que a garrafa chegue inteira do outro lado da esteira de bagagem. Pense no seu prazer, no seu bolso e em tudo que os supermercados portugueses podem fazer por esse hábito maravilhoso. Tenha a certeza de que vale, e que nenhum outro lugar compensa mais.

Continente Pingo Doce

À esquerda garrafeira de um Continente, à direita um Pingo Doce. Não são as maiores, e existem outros supermercados. Opte sempre pelo maior que tiver à vista. E nos arredores das cidades grandes e médias, por vezes, eles estão próximos. Escolha. Se estiver de carro, ficará muito fácil.