Visitar vinícolas é um prazer, sobretudo quando apreciamos aquilo que uma região produz. Diante do calor que estamos enfrentando nos levo a algo refrescante: vinhos brancos da Denominação de Origem Rueda, segundo eles “is one of the few European winegrowing regions specialised in making white wine”. A cidade que empresta o nome à região vinífera está localizada 172 quilômetros a noroeste de Madrid, pertinho de Tordesilhas – que nos remete às aulas de História da escola, por conta do tratado que dividiu o Brasil entre espanhóis e portugueses. No mundo do enoturismo, a insossa Tordesilhas serviria como uma espécie de rotatória vini-espanhola. No mapa, a partir dela, à esquerda temos Toro, à direita Ribera del Duero, ao sul chegamos rapidamente em Rueda e ao norte está León, de Castilla y León.

Selo de Rueda - este para vinhos com 85% a 100% Verdejo.
Selo de Rueda – este para vinhos com 85% a 100% Verdejo.

Mas voltemos à Rueda. Chegamos por lá ao meio dia de uma manhã quente de outubro – pois é, existem dias desse tipo em outubro na caliente Espanha. E percebemos algo muito interessante em torno do universo do vinho: a cidade é pequena e não há como escapar do tema. Aqui no Brasil as piadas diriam se tratar de uma “localidade de primeira”, pois ao engatar a segunda marcha do carro deixamos o sítio para trás. Assim, Rueda se faz a partir de uma avenida principal com algumas lojas de vinho, cafés e bares. Em uma ponta da cidade se destaca a “mega store” da bebida: La Cuba de Rueda, onde se destacam vinhos de diferentes lugares da Espanha e do mundo. Algo moderno, novo, que muitos criticam pelo exagero, lembrando uma loja Graal das estradas brasileiras. Quase em frente a ela um posto de gasolina com um café e uma loja. Essa sim! Mais simples, mas fortemente dedicada aos vinhos da região. Foi onde fizemos as tradicionais comprinhas. No mais, outras pequenas casas desse tipo se espalham pela cidade, e na outra ponta uma simpática fábrica de queijos. Mas queríamos mesmo visitar uma vinícola. Pela avenida muitas placas indicam produtores, mas as coisas não são fáceis. Não é chegar, tocar a campainha ou bater palmas.

A mega store do vinho
A mega store do vinho

Fomos então ao Conselho Regulador de Rueda, aquele que determina quem pode utilizar o selo regional por seguir padrões de produção. A marca RUEDA, associada fortemente aos vinhos brancos, exige a utilização de 50% a 100% da uva Verdejo, que ali é capaz de gerar uma bebida refrescante, extremamente adequada aos dias quentes. A marca VERDEJO, como na imagem acima, determina 85% a 100% dessa uva. Por lá, a Sauvignon Blanc também é bastante utilizada, mas confesso que agrada menos. Não é incomum ver rótulos com as duas uvas descritas, mas um Verdejo puro é realmente diferenciado, e sem se tratar de algo caro – no Brasil conseguimos bons exemplares a R$ 70, inclusive de casas grandes e tradicionais de Rioja e Ribera del Duero, que mantêm ali unidades para a produção de vinhos brancos. A despeito de toda a minha explicação técnica o máximo que conseguimos no escritório do D.O. Rueda foi um pôster num cesto que ficava na entrada. Então…

Pôster e camiseta - as lembranças de Rueda
Pôster e camiseta – as lembranças de Rueda

Então veio a sorte e a competência. Sorte nossa e competência da profissional do Escritório de Turismo da cidade. Localizado na avenida principal, pertinho da igreja, por lá encontramos uma moça extremamente simpática que ficou alegre quando descobriu que vínhamos de tão longe: “E o que desejam?”. “O de sempre”, pensamos: “conhecer uma vinícola!”, dissemos. Com uma naturalidade espantosa, ela fez perguntas sobre as características da casa e o horário. De quebra nos indicou um restaurante em cidade próxima, telefonou e agendou nosso passeio para às 16h00 e pediu que voltássemos pra contar a experiência – foi quando nos deu a camiseta que visto na foto.

Mas e a casa visitada? Pedimos algo bem tradicional e fomos recebidos na Bodegas Mocén, pertinho do centro. Um passeio muito bacana. Para além de toda a explicação sobre a vinificação com uma funcionária extremamente amável, o local é decorado por milhares de imagens de celebridades, pois seu proprietário é José Luis Ruíz Solaguren, da rede de restaurantes José Luis, colecionador de arte e das fotografias dos famosos com os quais guarda amizade – de reis a artistas, passando por esportistas e políticos. Assim, alguns pontos dos quilômetros de galerias subterrâneas da vinícola, onde estão guardados os vinhos, se convertem em praças de louvor a tais figuras. Um passeio bem interessante, que obviamente termina numa deliciosa taça de Verdejo 100%!

Entrada da Mocén

Homenagem a Julio Iglesias
Homenagem a Julio Iglesias