Faz alguns anos, imagino que estávamos no começo de 2020 ou final de 2019, um amigo querido me colocou num grupo de WhatsApp onde louvamos, comentamos, bebemos e, principalmente, compramos juntos vinhos nacionais. O líder da iniciativa faz contatos geniais e consegue condições de preço muito especiais para entregas feitas no Rio de Janeiro e em São Paulo. Numa das várias compras, se não estou enganado, consegui o telefone da Dom Bernardo pois Matheus, o proprietário, é próximo de um político muito amigo que cursou uma pós-graduação que eu coordenava. Posso estar enganado, mas isso chegou a facilitar as aproximações.

Introdução feita, quem arrumou o número pouco importa, pois o intuito aqui não é falar dos santos, mas principalmente a respeito dos milagres. Ontem, sexta-feira 13 de outubro, abrimos um Dom Bernardo Malbec 2018 – Safra Histórica. Parênteses para o ano de 2018: tal data está para certas regiões do Rio Grande do Sul como 2011 está para o Douro em Portugal. Em resumo: em 2018 foi relativamente menos complexo produzir um grande vinho na região. Algo ao estilo: o que vier será melhor do que muito do que foi produzido. E que fique evidente: isso não tira o mérito da vinícola e não diminui a história que vou contar aqui. Consideremos, pois, que no campeonato mais incrível da história de qualquer liga esportiva do mundo, um campeão será conhecido. E ele será, provavelmente, o mais brilhante de todos os tempos.

Se assim é, deixando de lado a extrema consideração e apreço que tenho por praticamente tudo o que bebi da Valmarino e da Alma Única vindo da safra 2018, que estava brilhante, a Dom Bernardo, realmente, merece atenção plena. Minhas experiências com a casa se restringem a quatro garrafas bebidas e uma ainda armazenada, o que parece suficiente para o que vou contar.

A primeira foi uma garrafa de Shiraz 2017 que não agradou tanto. Mas as três joias de 2018 marcaram algo que me faz dizer que na faixa dos R$ 100 pagos à época, e os preços mudaram bastante, eu bebi o que existe de mais agradável no universo do vinho tinto nacional. Aqui, obviamente, entra um pouco do gosto. Mas isso é óbvio.

Começamos a bem-aventurada saga em dezembro de 2021, quando bebemos um Merlot Safra Histórica que se mostrou extremamente equilibrado e marcado por carvalho na medida certa daquilo que nos agrada. Comparado com o Shiraz 2017 foi capaz de reorganizar a percepção inicial de que talvez eu tivesse me empolgado demais na compra.

DB Merlot

Tal percepção se desfez completamente quando bebemos o Safra Histórica de Shiraz, em janeiro desse ano. Em minhas anotações está lá: “um dos melhores vinhos nacionais que bebemos na vida”. E olha que já provei muita coisa de nível elevado, com destaque para alguns ícones da Valduga, Valmarino e Pizzato bem superiores em termos no preço, mas por vezes carregados demais no carvalho. O Dom Bernardo realmente surpreendeu pela elegância e, sobretudo, pelo equilíbrio.

DB Shiraz

E ontem veio mais um: o Safra Histórica de Malbec. Estava bem elegante, muito agradável e foi bem quase até o final. Depois de duas aberto, com um filme pesado na TV que consumiu nossa atenção e a companhia certeira de um queijo magnífico de Minas Gerais com um presunto cru correto, ele sucumbiu. Mas sejamos corretos aqui: faltava apenas o gole derradeiro, que só não estava genial, mas estava muito bom. Em resumo: a terceira garrafa da tal safra especial confirmou as duas anteriores.

DB Malbec

Agora na adega “apenas” um Marselan 2019, Vinhedo Gran Luiz, e na minha cabeça duas sensações: os caras fazem vinhos bons demais, ou seja, por que raios eu não comprei mais?