Faz alguns poucos anos conhecemos a loja da Miolo nos Jardins. Trata-se de um conceito de “champanharia”, nome que sequer deveria ser usado por conta do respeito à lógica dos tradicionais franceses, que nos agradou minimamente como restaurante. Até hoje foi o único estabelecimento de vinho associado a uma vinícola singular que conheci em São Paulo. Não me lembro de outro desse modo. Até domingo passado.

Faz menos de duas semanas que a Vinícola Campestre, de Campos de Cima da Serra, Rio Grande do Sul, abriu uma casa em Pinheiros, na Rua Pedroso de Moraes. Domingo chuvoso, sem muito o que fazer, procurando um lugar para almoçar e eis que demos atenção ao novo local. Para, desce e: vamos conhecer. Para tornar a manhã de domingo fácil.

Quem nos recebe é Isabella, enóloga fluminense, de Resende, formada no Instituto Federal de São Roque – mais uma novidade que preciso conhecer. Diz que a casa veio pra São Paulo e nos fala de uma ampla linha de produtos para gostos e bolsos diferentes. Começa com o premiado vinho de mesa que não nos agrada, fala em suco, cerveja e chega aos vinhos finos.

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A primeira linha é algo que podemos chamar de transição. Trata-se de um trio denominado Villa Campestre Reservado que fica um mês em barrica. O nome me desagrada, pois remete a vinho barato chileno. O Villa Campestre pode mais que isso. O Castas Italianas é simpático, o Castas Francesas é um vinho para o cotidiano de quem toma uma tacinha e o Cabernet Sauvignon tem sua personalidade. Penso nos espanhóis de entrada que se chamam Roble ou Jovén, e facilmente poderíamos ter algo como Carvalho. Mas paciência, valeu a experiência a menos de R$ 35 a garrafa. E todos vieram para casa.

Um degrau acima está a linha Zanotto, e aqui alguns achados são bem interessantes. Isabela está motivadíssima com a casa, sabe apresentar seu produto e o vende bem. Com a loja ainda sendo montada e os instaladores da porta de vidro fazendo seu serviço, demos a sorte de contar com um tempo e uma dedicação raríssimos. Foram cerca de duas horas de longa conversa, e extensa degustação. Provamos 11 rótulos dessa linha. Tenho que faltou apenas o Sauvignon Blanc, que passamos e já me arrependo, pois não custava completar o passeio.

Nessa linha se destacam: um fresco e atípico por sua característica cítrica incomum, Gewurztraminer; um equilibrado Chardonnay e; um divertido Moscato. O rosê não me agradou tanto, mas a Ka gostou. Entre os tintos, Merlot, Cabernet e Tannat passam três meses por barrica, ou demais não. O primeiro aqui parece óbvio, o segundo é equilibrado e o terceiro agradou bastante para um vinho de R$ 59 na loja. Nos tintos sem barrica, reina o premiado Sangiovesi, muito simpático e o puro terroir da casa. Bom. O Malbec e o Syrah marcaram pontos, e o Pinot Noir, único que eu conhecia, continua devendo em expressão – mas se trata de uma casta difícil que é influenciada no Brasil por excessos de carvalho de outras casas. Fechamos com os espumantes – um rose de Moscatel e um brut feito pelo método charmat a partir de Chardonnay que não encantou. Resultado: pra quem queria almoçar num preguiçoso domingo, certamente a Campestre fez a nossa alegria com explicações e percepções excelentes de nossa principal anfitriã. Ainda existem outras linhas mais sofisticadas, que certamente em algum instante despertarão nossa curiosidade.

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Sobre a experiência extremamente agradável: recomendamos. Mas sabemos que atenção assim é incomum, e que a tendência é a belíssima loja wine-bar se tornar mais comercial – algo absolutamente compreensível. A questão é que a aventura não para por aqui. Encantados com o tratamento, que envolveu até mesmo minha animação de posar conjuntamente na foto da Vinícola, complementado pelas ótimas Patrícia e Kelly, ficamos para o almoço. A casa serve uma boa tábua de frios e aqui bebemos uma garrafa de Sangiovesi. Estava bem gostoso. As compras no final da aventura incluíram queijos, enlatados, garrafas da linha Zanotto e alguns mimos. Que a Campestre seja muito bem-vinda a São Paulo, e que um dia possamos, como a foto já sugere, visitar a casa no norte do Rio Grande do Sul. A se medir pela unidade paulistana, seremos certamente muito bem tratados. Saúde! E até as próximas.

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