Seguimos firmes na ideia de buscar, no Brasil, vinho onde quer que ele seja produzido. Faltam ainda duas regiões importantes do Rio Grande do Sul, pouca coisa em Santa Catarina, a parte mais afastada da capital paranaense, os goianos e os nordestinos. Mas no último feriado a aventura foi absolutamente improvável: fomos ao Espírito Santo. Terra onde nasceu a mega comerciante Wine? Não… Nossas buscas não chegam a esse nível de interesse. Conhecer um lugar porque lá nasceu um e-comerce não faz sentido.

Fomos ao Espírito Santo porque lemos algo sobre a vinícola Tabocas e seu cabernet sauvignon. Chegamos ao aeroporto numa sexta e de carro subimos a serra rumo à Santa Teresa. Cidade simpática, pousada gostosa, povo acolhedor demais e uma tentativa de visita que findou não se consolidando. Zero problema. Fomos até os vinhedos, olhamos a estrutura e constatamos a simplicidade. Faltava o vinho.

O encontramos em uma produtora de licores na estrada Caravagio. O local tem potencial pra melhorar muito. Algumas pessoas ainda estranham quando dizemos que somos de outro estado: “como vocês vieram parar aqui?”. O capixaba precisa acreditar mais no que tem. Mas é um povo que se mostrou carinhoso demais.

A garrafa do Taboca veio na mala por R$ 65. Tem gente que chega a pedir cem. Como ainda não tomei, não sei se vale. Mas descobrimos outras possibilidades bem interessantes. A primeira é a Casa dos Espumantes. A história chega a ser heroica. Produção por método tradicional de espumantes, incluindo uma bebida de jabuticaba que estava em falta. Mas o Brut feito a partir da Malvasia Bianca veio por R$ 40. Abrimos no hotel em Vitória, e nesse caso constatamos que ali existe carinho, dedicação e vontade de acertar. Tudo isso ficou claro na conversa com uma das proprietárias que se prepara para um enoturismo bacana. Mas o vinho ainda está distante de nos agradar. Falta acidez, falta muita coisa. Mas paciência. Não fomos até o final, sequer passamos da primeira taça, mas projetos desse tipo sempre merecem respeito e precisam ser ajudados por agências de fomento à produção e ao turismo.

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Fotos: vinhedos da Tabocas’s Wine e Casa dos Espumantes

Tudo parecia solucionado em relação aos vinhos capixabas: um tinto e um espumante. O resto é bebida colonial de garrafão ou de uvas de mesa que passam longe de nos agradar. Mas um capítulo adicional, que contarei daqui alguns dias, foi escrito de forma muito interessante. Primeiro numa matéria do jornal A Gazeta que passou desapercebida. Mas na loja Mil Vinhos, um verdadeiro oásis numa cidade de supermercados muito simples, encontramos absolutamente de tudo um pouco. O acervo é capaz de atender a todos os gostos. Lá compramos e bebemos um bom verdejo espanhol a preço camarada. Mas não é sobre isso que vamos falar.

O dono da loja torna-se querido rapidamente. Sobretudo se você tiver com uma taça nas mãos. E as novidades vieram rapidamente: “Taboca? É um vinho legal, mas existem outros no universo dos finos da região”. Fiquei incrédulo e fui apresentado ao Terre Gialle e ao Único – não o de Ribera del Duero, mas sim ao da Mattiello feito com Tannat, Sangiovesi e Marselan. Essa segunda casa fica em endereço de fácil acesso e seu exterior não inspira uma visita em quem acredita em enoturismo sofisticado. Parece uma casa de bebida de garrafão. Engano!

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Foto: Tripadvisor

Quanto aos vinhos: o primeiro abrimos ali mesmo. E para nossa surpresa, a pequenina produção na qual a Mil Vinhos apostou em boa parcela de garrafas é absolutamente decente. Ainda um pouco desequilibrado, mas com qualidade muito acima do esperado. Acidez alta, sabor intenso no carvalho, talvez um quê de tabaco e café, uma bebida com potencial. Valeu conhecer. Certas intensidades eram tão agudas que um par de famosos composto por D.V. Catena e Peres Cruz Limited Edition demorou para engrenar na sequência.

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Farei adiante um post específico sobre esse trio de tintos, com um conjunto de percepções. E deixamos Santa Teresa com a sensação de que existe potencial razoável para um enoturismo de qualidade. Em meio a diversas atrações, a produção de vinho tem potencial para se tornar mais um bom chamariz para os capixabas entenderem o que um casal que vive em São Paulo faz por aqueles ótimos lados…