Dizem os italianos que Barolo é o vinho dos reis, e o rei dos vinhos. Uma bebida intensa, respeitada, admirada e extremamente bem produzida, por boa parte dos seus enólogos, a partir da uva nebbiolo. Estamos na região do Piemonte, norte da “bota”, como diria o narrador esportivo Silvio Luiz. Não muito longe dali está a França. Uma região fantástica!

Barolo não é apenas o vinho mais nobre da Itália, como também o nome de uma comuna na província de Cuneo. Pequena, com apenas 679 habitantes, de longe nas estradas estreitas é fácil avistar uma construção exuberante. Trata-se do “Castello Comunale Falletti di Barolo”, uma fortificação cujos primeiros registros datam do século X. História pura, cidade pequena, charmosa, restaurantes deliciosos, clima maravilhoso. Tudo para ser perfeito. Aos pés da imponente edificação uma porta de vidro, que esconde uma enoteca genial. Ali o sujeito tem duas opções complementares: pegar um cartão magnético, digitar códigos em uma máquina e provar pequenas taças de barolos, e comprar as garrafas dos principais produtores locais. Obviamente no primeiro dia fizemos as duas coisas. Primeiro porque os preços eram extremamente convidativos. Uma taça bem pequena, de degustação, custava dois euros em 2014. Como não empreender pelo menos 20 euros numa cruzada que lhe permite conhecer o que existe de melhor no mundo dos barolos? Segundo porque vinhos que no Brasil custavam, antes dos descontroles cambial e tributário mais de R$ 300, por lá eram facilmente encontrados em suas garrafas de 750 ml por menos de 30 euros, ou seja, à época algo em torno de R$ 100. Maravilha!

Notemos assim o contexto: cidade romântica, vinhos geniais, enoteca com ótimas condições de venda e consumo, restaurantes gostosos e um povo muito simpático. Perfeito. Mas como diriam os jovens: #sqn, o famoso “só que não”. Isso porque resolvemos entrar no castelo. Compramos ingressos e adentramos o que os descolados chamam de WiMu, ou se preferir, Museu do Vinho para os locais, ou wine museum. Uma produtora visitada no dia anterior já havia nos dito: “cuidado com a expectativa que estão criando em relação ao museu”. Fomos teimosos. E pagamos caro por isso. Primeiro oito euros por pessoa. Tudo bem, não é um absurdo, mas para o casal lá se foram oito taças de barolo na enoteca. Ainda assim digamos que… OK: história, tradição, tudo poderia estar ali à disposição. De novo: “só que não”. O local é tenebroso. Um dos piores passeios que fizemos em nossas viagens. Atrações pífias, um verdadeiro amontoado de salas mal decoradas, fundadas em 2010 com injeção de dinheiro público, num roteiro tosco que em nada atende ao desejo de efetivamente conhecermos a história daquela região e do seu genial vinho. Não vou me ater a detalhes, veja as poucas fotos e não tente entender o que Adão e Eva, caracterizados por manequins de loja infantil e cortes de cabelos “atraentes”, fazem com um cacho de uvas nas mãos. Definitivamente não é possível sonhar em voltar. Pro museu.

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Diante do cenário, as duas melhores atrações do local, disparadas, são: o terraço do último pavimento, com uma vista genial para toda a região e a porta de saída. A primeira porque permite um olhar externo para um horizonte mágico, com muito verde, montanhas discretas e vinhedos quase infinitos. Vilarejos completam a vista e o dia estava lindo. Quanto à saída, não pense que se trata apenas de um sentimento de fim. Pelo contrário. A sensação é de um verdadeiro começo. O museu termina exatamente na enoteca. Não havíamos notado isso no dia anterior, mas foi fácil abrir um sorriso e dispensar as explicações sobre o funcionamento vindo da simpática italiana: “Ieri ero presente”. Italiano ruim? Claro que sim, mas quem estava preocupado em acertar a língua cercado por uma variedade genial de garrafas de Barolo? Na “loja” a gente volta…

DSCN5963DSCN5965IMG_2696O castelo onde fica o museu, a vista de sua torre e a enoteca