Ontem ficamos quase duas horas no trânsito antes do almoço. A tarefa era simples: sair de casa, na Lapa, ir até Moema, pegar uma encomenda e almoçar em Pinheiros. Que sacrifício. Mas nada que um bom vinho não arrefeça de forma significativa, e o local escolhido ajudou demais. Diante de nosso humor quando chegamos ao local, ter gostado demais da experiência é mérito absoluto do local e de seu time.

Fomos à nossa região predileta na cidade, e na Rua Padre Carvalho escolhemos o Feriae, que a Ka já havia olhado com bastante atenção no último 13 de outubro. Naquele dia findamos escolhendo o bom oriental que fica próximo, mas dessa vez não escapamos, e o resultado foi bem bacana.

A proposta da casa é muito especial, a começar por uma decoração de muito bom gosto. O intuito é o uso integral dos ingredientes, e as opções no cardápio são tão atraentes que findamos ficando apenas em quatro entradas, nada além – por mais que vontade nunca seja de menos. E foram dois pares delas. Vamos lá: no primeiro set as arepas estavam boas, mas o pão de alho estava absolutamente incrível. No segundo, os mexilhões com batatinhas estavam dentro do esperado, mas o pupunha com purê de castanha de caju e farofa estava genial. Foi divertido demais, mas minha função aqui é falar de vinho. Então vamos lá.

A carta de bebidas é bem bacana, com sofisticações e complexidades deliciosas para quem entende um pouco de vinho. O problema, como de costume, é a falta de opções de garrafas por menos de R$ 100. Aqui vale destacar algo muito valioso no Feriae: as opções não são óbvias, a começar por diversidade de rótulos de rosê e de vinhos laranja bem pouco usuais para a realidade média. Assim, entenda: não estamos num restaurante usual, tampouco médio. O Feriae é bem sofisticado, e ao mesmo tempo acolhedor e atento. O serviço é muito simpático e depois que eu escolhi o vinho, veio a novidade mais bacana de todas.

Diante de preços acima do que minha racionalidade considera, optei por escolher um laranja. Primeiro por conta da versatilidade, segundo pelo caráter incomum, terceiro porque gostamos demais, e quarto porque sei que os preços ali estavam muito corretos para este tipo de bebida. Assim: El Zorrito Naranjo seria a escolha, da argentina Santa Julia, 100% Chardonnay numa lógica natural repleto de dados incomuns e especiais sobre produção. Muito bacana, e a preço correto: cerca de R$ 160 no restaurante, um vinho vendido a R$ 130 nas lojas. Perfeito.

zorrito

Fonte: vinícola

Mas aí vem o diferencial do sábado ensolarado em uma casa tão simpática. A importadora paulistana Uva Vinhos, que sigo faz algum tempo nas redes sociais, estava com uma ação promocional na casa promovendo degustações. E aí tudo mudou. Sofia deu explicações precisas e muito simpáticas sobre opções bem diferenciadas que a casa traz. Eles merecem atenção, e o que provamos estava muito bacana. O primeiro foi um Heinrich, de produtor austríaco, biodinâmico laranja, a base de Pinot Blanc e Moscato Ottonel que possuía uma salinidade alucinante que nos encantou. O segundo foi um vinho da Croácia, o nosso primeiro, tinto leve, biodinâmico, da uva Babic, se não me engano, que nos remeteu aos vinhos da francesa Jurá e nos desafiou. Eu teria ficado com qualquer um deles, mas sinceramente falando, com ambos acima dos R$ 300 a garrafa, tive dificuldade em aderir. Arrependido? Não, sobretudo porque sei que vale e posso encomendar pela loja. Ademais, a escolha de ontem foi um golaço.

Mas qual escolha? Confesso que diante do meu despreparo para os preços, os quais não estou questionando, provamos o Yin Yang rosê do Languedoc. Feito a partir de Cinsault e Aramon, uva muito plantada até os anos 60 na França e que vem desaparecendo, entrega aquela cor maravilhosa dos rosados pálidos e uma bebida muito delicada e bem-feita. A descrição no site da Uva Vinhos é muito simpática e o entusiasmos de Sofia ajudou bastante. Por sinal, ela demonstra alegria ao descrever seus vinhos a despeito de seus valores, o que nem sempre é comum e merece louvor e respeito. Por R$ 172 bebemos um rosê muito agradável, que foi bem demais com o pão de alho e com o pupunha, e não deixou de se relacionar, como esperado, com os mexilhões. Valeu, sobretudo pelo momento de degustação, pelo ambiente do restaurante, pelo atendimento e pela comida. Vale voltar, até porque El Zorrito Naranjo merece atenção.

Domaine-de-Sauzet-Yin-Yang-Rose-185x687 Heinrich-Weisze-Freyheit Vinas-Mora-Kaamen-185x687

Fonte: Uva Vinho – pela ordem na foto: o francês, o austríaco e o croata