O discurso é velho para os poucos aventureiros que frequentam meus escritos sobre vinho: desde 2012, inicialmente no Facebook, divulgo semestralmente uma lista de 10 vinhos que me custaram até R$ 55. Como as bebidas mais baratas tendem a ser mais simples e mais jovens, nada de imaginar que comprei esses vinhos faz muitos anos. Por este valor estamos em algo como: comprou, climatizou, abriu e bebeu. Simples assim. E as listas têm sido divulgadas no começo de maio e no início de novembro. Aqui trago mais uma edição de meu hobby, tão útil para quem aparece por aqui. Vamos lá?
Em tempos recentes tenho reclamado que cada vez se torna mais difícil comprar vinhos de qualidade por menos de R$ 55. Mas desta vez acho que dei sorte, ou que efetivamente estou aprimorando minha capacidade de fazer boas escolhas. Com o vinho nacional subindo de preços de um modo absurdo, ficaremos com escolhas estrangeiras e uma novidade: não vou divulgar 10 vinhos, mas sim 17 opções. Veja que maravilha: mais escolha, e em todos os estilos possíveis. Temos aqui vinhos tintos (7), brancos (5), espumantes (1) e rosês (4). Mas atenção: o valor anunciado está associado ao que eu paguei. Isso significa que podemos ter condições especiais para sócios de clubes de vinhos, e algumas variações, lembrando que nas listas de maio entram os saldos de janeiros e as promoções do final de novembro. Vou tentar tornar evidente em que condições eu comprei os vinhos. Saúde!
Primeiro ponto essencial para esta divulgação: vou dividir os 17 rótulos em dois blocos. Primeiro tratarei dos quatro vinhos que custaram R$ 50 ou mais. Perceba: sobram treze garrafas em que paguei menos de R$ 50. Tá ficando bom, não?
Vinho / % Alcoólico / País / local de compra / R$ pago / comentário sobre o valor / Tipo
Vinha da Coutada Velha 13,5 Portugal Sacolão 55,00 Não vai achar nesse preço / TINTO
Brise Marine 12,5 França Josy Senna 55,00 Não vai achar nesse preço / ROSÊ
Cellier des Dauphins – Prestige 12,5 França Evino 50,00 Varia bastante de preço /
Xenê – House White 10,5 Brasil Xenê 50,00 Estava terminando… / BRANCO
O primeiro vinho é caro, e dificilmente será comprado por R$ 55. Este valor foi pago numa Black Friday no Superville, mercado localizado na Lapa. O Vinha da Coutada Velha tem potencial pra custar cerca de R$ 80, estava muito agradável, um alentejano elegante e bem feito, de uma casa tradicional. Faz poucas semanas, no Sacolão da Lapa, na Rua Coriolano, paguei rindo R$ 60 em nova promoção. Vale. Sobre os dois rosados as notícias se dividem. Enquanto o correto e equilibrado Cellier des Dauphins Prestige estava R$ 45 em promoção atual da Evino, o Brise Marine, comprado com a Josy Senna, dificilmente será encontrado por tal valor. Por fim, o branco do wine-bar Xenê, em Pinheiros, São Paulo, gera polêmica. Para muitos trata-se de um vinho ácido demais e difícil, mas nós gostamos demais. Super refrescante, cítrico, lembra uma cerveja sour. No bar, uma garrafa custava R$ 75, e duas R$ 100. Tomamos uma no local e trouxemos outra pra casa – custou média de R$ 50 e entrou na lista com mérito. A questão é que como a estação do ano mudou, o vinho da casa do Xenê já será um tinto nacional sob as mesmas condições. Vale conferir, pois ganhei uma provinha ante de as garrafas começarem a ser comercializadas e gostei.
Vinho / % Alcoólico / País / local de compra / R$ pago / comentário sobre o valor / Tipo
Coeur de Mediterranée 12,5 França Wine 45,00 Varia bastante de preço / ROSÊ
Mànnara Rosê 12,0 Itália Sacolão 45,00 Comprei a 45 na promoção
Casa Valduga Arte 12,5 Brasil Sacolão 44,00 brut rosê OU brut – vi a 54 / ESPUMANTE
Miluna Bianco 11,5 Itália Sacolão 39,00 Achei a 44 no Sacolão / BRANCO
Mànnara Branco 12,0 Itália Sacolão 39,00 Comprei a 45 na promoção
Vino Bianco – Sogno Italiano 11,5 Itália Tappi 35,00 Difícil achar
Ballade Riesling 11,0 Brasil Wine 28,00 Estava abaixo de R$ 40
Esteban Martín blend 13,5 Espanha SuperVille 49,00 Vi a 40 na Amazon / TINTO
Anciano Garnacha 13,5 Espanha Superville 49,00 Ainda custa isso
La Fiesta Sur Tannat 13,5 Uruguai Mambo 49,00 Já estava 85
Las 2 Ces 13,5 Espanha SuperVille 40,00 Sumiu do mercado
Barone Montalto blend 13,5 Itália Grand Cru 48,00 Confraria Grand Cru
Codici – dark blend 13,0 Itália Sacolão 44,00 Promoção Sacolão
Já a segunda parte da lista tem 13 rótulos por menos de R$ 50. Oportunidades de toda ordem. Vamos começar pelo espumante, o único desse semestre. Pra quem nos acompanha, novidade alguma: Casa Valduga Arte brut 12 meses, a melhor relação custo-benefício que conheço nesse estilo de vinho. No Sacolão e no Superville hoje eles custam R$ 54, mas paguei R$ 44 no final de 2022. Sobre os dois rosados, o Couer de Mediterranée varia de valor na Wine e vale à pena, enquanto o italiano Mànnara, destoando do domínio francês sobre os rosados, foi encontrado em promoção no Sacolão e estava muito bom.
No universo dos brancos quatro opções: o velho conhecido Miluna, cada vez mais raro de ser encontrado neste preço, o Mànnara na versão branca, muito delicado e com todo caráter citrino da Pinot Grigio, e a dupla simples e básica formada pelo Sogno Italiano comprado na Tappi, loja na Vila Ipojuca, e o Ballade, linha feita pela Miolo exclusivamente para a Wine que tem no Riesling um vinho ligeiro, cítrico e fácil de beber.
Terminando pelos tintos, seis vinhos com predomínio da Espanha. A dupla Esteban Martín (blend Garnacha e Shiraz) e Las 2Cs é velha conhecida e merece muita atenção, sendo que aqui temos algo semelhante aos rosados mais caros: enquanto o 2Cs já não existe mais a este preço, e está sendo encontrado por cerca de R$ 60, o Esteban estava a R$ 40 faz poucos dias atrás na Amazon, com entrega grátis para clientes Prime. O Anciano completa o trio espanhol, e tal versão Garnacha é muito correta. Da Itália, o corretíssimo Codici dark blend, da Puglia, que no Sacolão da Lapa foi comprado a R$ 44 faz poucos dias atrás, e o Barone Montalto, leve, tranquilo, na Confraria Grand Cru, que entrega coisas corretas em promoção de três vinhos por mês a R$ 48 a garrafa.
Terminamos a lista aqui com um uruguaio. Não dei muita atenção ao extremamente ácido La Fiesta Sur até notar numa caixa que recebi no supermercado que trata-se de uma linha de entrada da respeitável Pizzorno, que visitei em 2017. Diante do preço, comprei um Cabernet Sauvignon no Superville que não agradou e um Tannat, no supermercado Mambo, que estava bem tranquilo. Este segundo eu nunca mais vi por menos de R$ 70, já o primeiro continuava R$ 49 no Superville. Vale? Talvez. Prove e me diga.
Bem humoradamente quero ainda oferecer o que seria a lista ideal e a lista possível em todo esse post. A ideal teria: o tinto Coutada Velha, o rosê Brise Marine, o branco Miluna e o espumante da Valduga. Mas certamente aqui, hoje, ultrapassaríamos R$ 220, ou seja, R$ 55 em média para quatro garrafas. No campo do possível e que certamente ficaria dentro desse valor de acordo com pesquisas recentes, eu indicaria: Esteban Martín nos tintos, o espumante da Valduga, o Cellier Prestige nos rosados e o Ballade.
Aproveitando o desfecho desse post semestral de minhas listinhas, quero chamar a atenção para algo especial. Nove das 17 recomendações vieram de dois lugares: o Sacolão da Rua Coriolano, na Lapa, e o supermercado Superville, a poucos metros de distância. Ambos promovem uma disputa muito particular no mundo dos vinhos e merecem visitas. Suas adegas são extremamente corretas, e não é nada incomum encontrar excelentes preços em suas prateleiras. Divirta-se.
