Uma noite com amigos em torno do vinho é algo para ser celebrado e registrado sempre. Pois ontem fomos ao Teatro Sesi, no prédio da Fiesp, em peça que começava às 16h00. Às 18h00 estávamos livres, em três casais, na Avenida Paulista que se mostrava mais viva do que nunca numa sexta-feira, emenda de feriado, se preparando para a Parada do Orgulho LGBTQIA+. O primeiro achado foi em frente ao Parque Trianon, uma feirinha guardava espaço para uma barraca com um chope artesanal de Monteiro Lobato, interior de São Paulo. Não estava lá estas coisas, mas para quem não esperava muito, serviu pra divertir e refrescar a caminhada.

Mais adiante, em direção à Rua Augusta, algumas paradas e boas risadas, até que chegamos à esquina com a Rua Luís Coelho para mais uma boa noite no Le Bon Vin, sobre o qual tratei aqui outras vezes. O local estava acolhedor, como de costume, e a mesa me ofertou a missão de escolher os vinhos. Fiquei na cabeça com a incumbência de ser cometido em termos de preço, com garrafas abaixo de R$ 100 e a certeza de que ali eu dificilmente escolheria algo que não estivesse bom. Ao todo bebemos quatro rótulos, e comemos duas pizzas individuais deliciosas, uma brusqueta de truta defumada com castanhas incrível e um brie ao forno que estava bem bacana. Mas vamos aos vinhos?

Iniciamos com um Terra Fiel brut, do Rio Grande do Sul, que pelo preço (R$ 58) me chamou a atenção. Desconfiado da presença da Riseling no blend, lembrei que alguns produtores brasileiros têm conseguido trazer essa uva para os borbulhantes sem comprometer o caráter extremamente seco e ácido que me encantam em vinhos desse tipo. A mesa gostou, eu achei bem simpático, e resolvemos assim a primeira garrafa. Ela foi seguida por um vinho branco chileno, feito de Chardonnay, que me foi apresentado como uma garrafa que passa longe da doçura exagerada que este país oferta para alguns de seus rótulos. A descrição estava certa, e o Paisajes de los Andes se mostrou agradável a R$ 90.

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Se começamos com espumante e fomos para um branco, a etapa seguinte nos remetia a um rosê, para que víssemos de tudo. A tentativa de associar valores abaixo de R$ 100 e bons vinhos, aqui, falhou. O rosado mais barato, e pronto para beber que tínhamos era um português de R$ 105, e passei. Seguimos no branco e por R$ 60 encontramos o Pleno, a base de Moscato Giallo, da Marzarotto. Já tinha bebido algo deles aqui em visita anterior e me encantado, e dessa vez não foi diferente. A bebida estava bem herbácea, com notas vivas que encantaram os presentes. Foi, para mim, o vinho mais simpático da noite.

Para fecharmos o passeio, um tinto. Voltamos para a Terra Fiel e da linha Terroir bebemos um Ancellotta, a uva italiana menos comum pelo mundo que em minha predileção faz um par pouco usual com a Teroldego – em garrafas diferentes, não em bleds, naturalmente. Nosso exemplar, a preço inferior a R$ 70, estava bem agradável, com uma acidez elevada que me agrada, numa uva que bebo menos do que eu gostaria. Valeu.

Pleno branco terra fiel tinto

Saímos do bar pagando menos de R$ 160 por casal, o que é bem bacana para quem tanto bebeu. E deixamos o local com aquela sensação de que noites gostosas existem para ser vividas. O problema, no entanto, é que eram dez horas, e tal informação permitia mais uma esticada. Um dos casai preferiu partir, mas em quatro fomos realizar o desejo de uma de nossas participantes: “sempre quis conhecer o A Vinha”. Desejos dessa natureza, na vida de quem gosta de vinho, é uma ordem. E lá fomos nós visitar esta casinha pequena e extremamente simpática que serve as melhores empanadas que existem. Lá bebemos um Aldeias de Juromenha, branco alentejano que tem na composição duas uvas incomuns para a região mas que me agradem demais: a Alvarinho e a Verdelho. Somadas à Arinto e Antão Vaz entregaram uma bebida típica de Portugal: álcool acima da média para os brancos e muito aroma. Estava bom. Para fechar, sem qualquer planejamento, ganhamos da proprietária uma pequena taça cortesia do que havia nos faltado: um rosê, o Vergel, de Alicante, a base da potente Monastrell, que aqui estava bem pálido e agradável. Que noite bacana.

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