Insatisfeito com a venda on-line da Grand Cru, com sua confraria de vinhos “baratos” questionáveis e com o histórico de preços ofertados pela loja, tomei algumas decisões em tempos recentes. A primeira: se vou sair do clube quando completar 12 meses como sócio, nada mais justo do que aproveitar as condições especiais que tenho junto ao local. Uma delas eu experimentei, mais uma vez, na última semana.

Ao lado da loja que fica na esquina da Alameda Tietê com a Bela Cintra, existe um restaurante chamado Barletta que às quintas e sábados tem um show intimista de jazz que começa por volta das 20h30. A ideia é simples: fazer a reserva que tem como limite 20h, jantar com a Ka, escolher um vinho na loja a preço de varejo com o desconto de confrade e ouvir uma boa música. Vamos dividir a experiência em quatro partes, conforme destacado acima.

A primeira foi facílima e resolvida por WhatsApp. O atendimento no final da manhã de sábado foi imediato, e tenho certeza de que do outro lado existia um humano, e não aqueles robôs despreparados que mal sabem responder uma pergunta mais complexa. Em poucos minutos eu tinha uma mesa, com a ressalva de que a casa estava cheia e eu ficaria longe do palco. Paciência. Respostas honestas geram o famoso: o combinado não sai caro.

O jantar foi incrível, a começar pelo atendimento extremamente atencioso de todas as cinco pessoas que vieram à nossa mesa ao longo da refeição. O ponto alto foi Regis, um garçom piauiense extremamente simpático e acolhedor. Seus colegas não ficaram para trás, e até quando a mesa com três casais insistia em gargalhar e conversar à vontade durante a música, ignorando o jazz, eles se esforçaram para nos reposicionar num novo local bem mais tranquilo. A comida estava excepcional, com uma boa entrada sob a lógica das bruschettas e dois pratos de massas extremamente atentos e saborosos. A Ka comeu um gnocchi de beterraba com gorgonzola que veio defumado na medida certa, e eu comi um ravioli de abóbora com gengibre ao molho de queijo que estava delicado demais. Genial.

Cumprida a parte da comida e da reserva, vem o vinho. O cliente que é confrade tem duas opções: se serve da carta do restaurante ou vai à loja, por um pequeno corredor interno, e se rende a centenas de rótulos. Obviamente foi o que fiz, e conhecedor da casa, foi fácil chegar a algo interessante. Pensando nos molhos associados aos nossos pratos, escolhi um vinho branco italiano da Barone Montalto, um dos raros produtores sob o qual a confraria tem sido positiva. Nesse caso, comprei um reserva da família da uva Zibibbo, que nada mais é do que uma variação da Moscatel de Alexandria, menos doce que o normal quando bem trabalhada. O valor da loja se aproximava dos R$ 130 e como associado paguei menos de R$ 110. O vinho estava muito fresco, intenso e valeu demais na harmonização com a comida. Um achado bacana que nos gerou muita felicidade.

zibibbo

Resta dizer algo sobre o show. Um trio muito correto, com guitarra, baixo e voz em duas entradas de uma hora cada. Bia Negri tem uma afinação especial e cantou alguns clássicos da bossa nova e da música norte-americana. Pena, como dito anteriormente, que nem todos estavam no local para ouvi-la, e quando ofertaram um pouco de atenção, protagonizaram cena que dimensiona o tamanho de nosso despreparo social para a cordialidade. As três senhoras dos casais acima citados acharam brilhante a ideia de se levantarem e, de pé, rindo e fazendo barulho, se colocarem na frente do trio – que sequer fica num palco, mas sim num local em destaque no restaurante, como é possível perceber pela foto. Quando uma das músicas terminou, fizeram mais barulho que o habitual em aplausos e comentários calorosos, e uma delas, nitidamente acima da dose etílica da elegância, começou a conversar com a cantora, que atenciosa parou de trabalhar para atender à pauta. Numa das rápidas sentenças trocadas deu para entender: “você tem um cartãozinho?”. E a artista, timidamente, disse de forma discreta: “acompanhe o nosso trabalho nas redes sociais, pelo Instagram”. Minha chatice registrou tal instante, mas o prazer de estar ali não foi arranhado por tamanha falta de educação de uma parcela bem “especial” da sociedade que carrega uma dificuldade imensa de se comportar bem. O que posso dizer é: diante dos conflitos e insatisfações recentes com a Grand Cru, esta noite, minha segunda no Barletta, e a primeira da Ka, resgatou o prazer de se beber bem a bom preço, comer algo muito especial, ser muito bem servido e ter uma noite de música agradabilíssima. Obrigado à Grand Cru, que pelo menos aqui acertou.

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