Mudar de carreira com quase 50 anos de idade é fuga? Cansaço? Admiração por outras áreas e descobertas de novas paixões? Não sei dizer, mas enquanto sigo na Ciência Política das diversas formas que consigo dar a ela, fico me imaginando em uma vinícola, trabalhando com enoturismo, recebendo gente que deseja conhecer mais sobre a paixão que nutro por este ambiente. Na Mantiqueira, em julho, visitamos uma casa e me vi no trabalho de um sommelier genial que nos recebeu para uma degustação.

Não que eu tenha conhecimento para tudo o que ele passou, o que posso adquirir. Mas me percebi no entusiasmo dele, na facilidade por falar em público, na alegria de receber. Faz alguns anos observei com atenção uma pós-graduação em Enoturismo em Portugal. Deu vontade de largar tudo e fazer. E enquanto essa coragem não vem, e dificilmente virá, sigo aqui escrevendo sobre minhas sensações no mundo do vinho. Isso já me ajuda bastante, e temo que transformar esta admiração em trabalho e obrigação me fará olhar para a Ciência Política e dizer: a política passou a ser o meu hobby. Sabe aquela história das férias, quando dizemos que elas são ruins porque terminam? Temo que um dia, aposentado ou em uma nova jornada, vou dizer que tenho saudades de trabalhar com política. É isso.

Assim, para além dos textos, das provas e das viagens atrás de vinho, o que mais seria possível eu fazer para me manter perto desse universo? A Le Bon Vin, loja e wine-bar sobre a qual tenho falado reiteradas vezes aqui, me deu uma oportunidade nova na semana retrasada que nunca vou esquecer. O proprietário queria iniciar uma série mensal de saraus temáticos que trouxessem pessoas dispostas a um bom debate orientadas por alguém que pudesse livremente escolher e falar sobre determinado tema. Fui o escolhido para inaugurar a série e entendi que seria bacana falarmos algo sobre o estado atual da Democracia, com ênfase no Brasil.

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A terça-feira dia 18 de julho marcou a chegada de uma frente fria na capital, e algumas promessas de presença de pessoas queridas não foram cumpridas, algo absolutamente compreensível. Ainda assim, lá estávamos nós no local. A loja é pequena, aconchegante e muito agradável, e as cerca de 15 pessoas que lá estiveram acalentaram demais a minha alma e preencheram o ambiente. Não vou entrar em detalhes sobre o que disse, mas sim sobre o que senti ao poder falar em meio a tantas pessoas interessantes e diante de garrafas tão bacanas. Enquanto eu dizia algo tentei fazer algumas correlações entre desafios democráticos e o conhecimento sobre o mundo do vinho. Não sei se soou artificial, mas me motivou ainda mais. Antes de falar, bebi uma taça do alentejano Bojador que considerei um pouco doce – e esse não é o termo certo – para o meu gosto. Depois da fala, completei meu trabalho com uma prova bem gostosa do Alvarinho da Vivalti, que no almoço do mesmo dia eu fiz acompanhar uma salada com torta de frango numa harmonização muito especial.

Vivalti

Para completar, abri mão gentilmente do pagamento pela palestra e pedi que meu trabalho fosse retribuído com um bom vinho. O Nebbiolo da Manus veio embrulhado numa sacola muito simpática, e quando desvendei meu presente em casa fiquei emocionado. Se eu tiver colocado em minhas palavras, naquela noite, uma pequena parte da paixão que o enólogo e proprietário da vinícola empregou quando nos apresentou seu vinho faz cerca de um mês atrás na mesma Le Bon Vin, eu definitivamente ainda terei mais um bom tempo de Ciência Política prazerosa pela frente. Saúde.

Manus