Meu último texto foi publicado dia 25 de dezembro. Uma ode aos vinhos que classifiquei com 5 pontos no aplicativo Evino. A brincadeira com os super rótulos não vai parar por ali. Hoje tentarei entender qual foi o melhor vinho que bebi na vida na visão dos outros. Para tanto, vou fazer um exercício simples: tomarei por base 32 vinhos que registrei com notas entre 4,5 e 5 pontos no Evino nos últimos 10 anos e verificarei as notas que lhes foram oferecidas no próprio Evino e no Cellar Tracker. A partir da soma das duas notas, cada uma com base num máximo de cinco pontos, terei como chegar àquilo que bebedores espalhados pelo mundo entendem ser “o melhor vinho que eu bebi na vida”. Exercício inútil? Sim, eu também acho, mas é uma boa maneira de me divertir sem pensar em trabalho. Assim: vamos lá.

Dez garrafas, portanto quase um terço, atingem notas iguais ou superior a 9,0 na combinação dos aplicativos. São sete tintos, dois vinhos de sobremesa ou fortificados, e um espumante. Os resultados pouco me surpreendem, e certamente estão associados ao que o glamour em torno desses rótulos carrega, para além de uma indiscutível qualidade.

Se eu estivesse olhando para um podium esportivo a Espanha teria a medalha de ouro, Portugal a de prata e a Itália a de bronze, todos tintos. O campeão de avaliações com a nota 9,36 é o Valbuena nº 5 safra 2005 que bebemos recentemente – destacando que visitamos a vinícola em 2009 e lá o provamos pela primeira vez. Comprei essa garrafa por cerca de 90 euros em Lisboa. Era 2012 e eu estava com amigos num congresso, prometendo voltar para casa com um vinho gigante na mala. Parece que aos olhos de milhares de consumidores eu cumpri minha palavra. O ano de 2005 é emblemático, foi nele que nos casamos.

Valbuena

O segundo colocado, com nota 9,34 é o ícone alentejano da Fundação Eugênio Almeida, Pêra-Manca, safra 2007. Ele empata com o líder no Vivino e fica dois décimos abaixo pela nota ajustada do Cellar Tracker, que avalia em base 100. Já em terceiro lugar, o pioneiro dos super-toscanos, conceito surgido no final dos anos 60 para flexibilizar o que se produzia na Toscana e utilizar uvas francesas em solo absolutamente especial. Aqui falo de um Sassicaia 2008 que obteve a nota 9,27. Esses dois últimos vinhos foram abertos em eventos muitos especiais por amigas muito queridas. O italiano em agosto de 2015, e o português no meu aniversário de 41 anos em 2016. Gratidão imensa.

PM

Em quarto lugar com 9,15 pontos aparece um Sauternes, o Château Saint-Amand 1997 que compramos diretamente na casa dos produtores, no centro da pequenina cidadela francesa quando lá estivemos em 2013. Estava perfeito, e foi seguido pelo primeiro vinho fora do velho mundo. Falo especificamente de um Osiris Reserva Tannat, edição limitada, 2009. Um uruguaio absolutamente redondo que obteve a nota 9,05 e ficou empatado com outros dois grandes vinhos: o absoluto e soberano Porto Ferreira Vintage 1970 que bebemos no Réveillon de 2015 com amigos queridos nos arredores de Lisboa, e o Flor de Pingus 2008. Essa casa de Ribeira del Duero, que visitamos em 2015, merece atenção, e aqui estamos falando de um de seus vinhos mais simples. Um espetáculo que nos foi oferecido por um casal especial de amigos.

Fecha a lista um trio muito especial. Com 9,03 um Champagne representativo da grandiosidade da região. Falo especialmente de uma Perrier Jouet – Belle Epoque 2007. Trata-se, para quem não a conhece pelo nome, de um daqueles exemplares onde são pintadas flores nas garrafas. Uma verdadeira obra de arte, algo elegante que estava sublime – a garrafa guardamos até hoje. Com 9,01 mais um espanhol, mas dessa vez saímos de Ribera del Duero e chegamos ao Priorat, a região dos mais elegantes vinhos tintos da Catalunha. Trazido diretamente da vinícola, em uma visita que fizemos em 2012, o Clos Morgador – Manyetes 2001 absolutamente fantástico. E fecha a série de dez rótulos, com nota 9,0, outro sul-americano, e novamente um uruguaio. Esse foi bebido recentemente e veio na mala a partir de nova viagem acadêmica que fiz, dessa vez para Montevideo, em 2017. Falo especificamente do Bouza Parcela Única Tannat B26 2014 que bebemos acompanhado por um cordeiro que casou perfeitamente com sua potência. Genial.

Confesso que fico surpreso com dois uruguaios na lista, e com a ausência de franceses tintos. As demais aparições e resultados eu tinha mais ou menos em mente e consigo me recordar, com água na boca, dessas preciosidades. Saúde.

sassicaia