Quando entro numa loja de vinhos, visito um site de vendas da bebida ou vou a um supermercado costumo passar rapidamente pelos espaços reservados para vinhos argentinos e chilenos. É uma questão de gosto, e tendo a me dedicar mais aos brasileiros e uruguaios quando o assunto é a América do Sul. Isso não representa que não bebo chilenos e argentinos, pelo contrário. Esse ano cerca de 15% do que tomei de vinho era originário desses dois países, e ao longo dos anos alguns exemplares de excelência dessas nações estavam deslumbrantes.

Parte desse afastamento talvez esteja associado ao fato de que nunca explorei a fundo as vinícolas desses locais. Mais de 60 produtores visitados pelo mundo e apenas uma vinícola chilena e nenhuma argentina. Não foi por falta de tentativa. A Gol chegou a desmarcar meu voo para Mendoza, e no final de 2017, se a viagem para o sul do Chile fosse mais barata que a ida para a Galícia nós não teríamos rumado para a Europa. Difícil de acreditar, mas é verdade!

A vinícola que conheci no Chile, assim, é extremamente comercial, num estilo de passeio que pouco me agrada. Prefiro passar trinta minutos sozinho com um produtor ou funcionário numa bodega do que pagar por um passeio gigante composto por explicações e dezenas de turistas que se avolumam numa degustação final que costuma ocorrer numa loja que até carrinho de supermercado tem.

Pois bem, no final de 2010 resolvemos passar o Ano-Novo em Santiago com duas amigas. O passeio foi bem bacana, mas enquanto compramos um pacote para agilizarmos a logística, e tivemos alguns percalços turísticos que nos irritaram, as duas se divertiram bem mais, num estilo de passeio mais condizente com o nosso. Uma das coisas que fizemos juntos foi pegar uma van e ir para a Concha y Toro. A casa fica nas cercanias de Santiago e é gigante – o grupo é um dos maiores produtores do mundo. Aglomerados de turistas eram selados por cores, e cada um tinha seu guia turístico numa organização que me lembra os dispensáveis parques temáticos. O nosso guia era idêntico ao personagem cinematográfico dos anos 80, Crocodilo Dundee, e até chapéu usava. Foi simpático, nos levou pela casa, pelas vinhas, entrou nas salas de barricas, fez a tradicional brincadeira “aterrorizante” para apresentar o comercial Casilero del Diablo e depois de algumas paradas estratégicas para pequenas provas nos despejou numa loja imensa. Não vou dizer que não me diverti, pois estávamos felizes e bem humorados. Mas pouco me lembro de detalhes do roteiro. Vale a pena? De certa forma, para quem não gosta muito de estudar vinhos e quer colocar ao menos uma vinícola no roteiro de um dado passeio, tenho certeza que a casa supera expectativas e alegra o turista – por sinal, a té a tacinha de degustação você levava simpaticamente de presente! Mas pra quem viaja atrás de vinho, estuda e adora conversar sobre o assunto nas casas que visita, aqui não temos nada de especial.

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Do que comprei lá tenho apenas um rótulo como absolutamente fundamental. A Concha y Toro, que produz o premiadíssimo, caro e consagrado Almaviva – a garrafa que tomei (2004) não me levou a nada que valha o quanto se cobra, mas paciência – também faz o EPU. Chamado por alguns de “filho do Almaviva” ou “Almavivinha” o vinho não é tão caro quanto seu superior e no Chile costuma custar, obviamente, ainda menos. Na Superadega, o Almaviva está quase R$ 1.4000,00, enquanto o EPU passa um pouco de R$ 500,00. Já vi superpromoções de EPU a menos de R$ 300,00, e na EL Mundo del Vino em Santiago o preço é 35.500 pesos, ou seja, cerca de R$ 200,00. Vale? Não tenha dúvidas que sim. Trata-se de um blend de cabernet sauvignon, carmenere, merlot e cabernet franc envelhecido 12 meses em barrica de carvalho. Bebi a safra 2008 e à ocasião estava muito especial. Trata-se de um vinho menos consagrado que entrega mais do que muitos figurões chilenos.

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Fonte: Wine