Semana passada divulguei aqui no Misturinhas a 14ª edição de minha Lista Semestral de vinhos de até R$ 55. Para variar inicio o texto reclamando que nunca alterei esse valor, e que certamente em sete anos muito se perdeu em matéria de qualidade. Hoje resolvi ver se alguém se aventura em listas parecidas. Meu objetivo era descobrir coisas novas a preços semelhantes.

O curioso nessa brincadeira é que o valor cada escritor estabelece ao seu modo. Achei duas listas recentes: uma no Estadão com vinhos por menos de R$ 100 – cara, pois vinho nesse preço ainda tem sido fácil de encontrar a qualidade bem bacana; a outra superou meus limites e foi encontrada no Manual do Homem Moderno, um portal que eu não conhecia. O sommelier Leonardo Filomeno apertou o bolso e apresentou, com pesquisa de 31 de agosto desse ano, 13 vinhos por menos de R$ 40. Vamos explorar a relação? Vou dividi-la em quatro grupos: conheço e aprovo, conheço e não aprovo, não conheço e gostaria de conhecer, não conheço e não arriscaria. Divertido? Então vamos lá. Assim você fica com a visão de um estudioso (ele) e de um aventureiro (eu), aumentando suas chances de acertar. A lista, resumidamente, está abaixo:

1 – Toro Loco – Tempranillo

2 – Barahonda Campo Arriba – blend com Monastrell e outras uvas

3 – Casa Valduga Origem – Cabernet Sauvignon

4 – Artesano de Argento – Malbec

5 – Ponto Nero Celebration – Moscatel

6 – Espumante Fantinel Cuvée Prstige Brut – blend com Chardonnay e outras uvas

7 – Santa Helena reservado – Merlot

8 – Anciano Crianza 3 years – Tempranillo

9 – Boa Eiras – blend

10 – Via Cassia – Primitivo

11 – Vinho Verde Casal Garcia – blend com Trajadura e outras uvas

12 – Petits Detours – Syrah

13 – Frisante Salton Lunae Rosê – blend com Moscatel e outras uvas

Agora vamos para os grupos que estabeleci para análise e podem ajudar ainda mais num bom brinde. Começo com o que conheço e aprovo. O Barahonda Campo Arriba é um vinho vendido na Wine que a partir de sua região (Yecla) e de sua principal uva (Monastrell) gera uma experiência interessante. A casa vende mais de um rótulo no Brasil, e eu conheço outros dois deles nessa mesma faixa de preço. Tudo o que bebi, incluindo este, se mostrou honesto. Sai da obviedade de alguns Tempranillos espanhóis baratos e, por isso, vale. O Petits Detours gera menos prazer, mas ainda assim vale a pena. Trata-se de um vinho francês bem simples, despretensioso, mas não é sempre que queremos algo complexo. Por vezes desejamos apenas relaxar.

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Fonte: Manual do Homem Moderno

O segundo grupo é formado pelo que conheço e não aprovo. Quatro deles são extremamente comerciais e me desagradam pela obviedade. São vinhos com legiões de admiradores no campo do que há de mais simples em matéria de vinho. Mas definitivamente não gosto de nada óbvio, que é BEM diferente de algo simples. São representantes de vinhos comerciais de Portugal, Espanha, Chile e Argentina, respectivamente: Casal Garcia, Toro Loco, Santa Helena e Artesano. Vou incluir nessa relação do que conheço e não gosto, por outras razões, o Origem da Casa Valduga. Esse pode surpreender alguns bebedores e merece mais atenção que o quarteto anterior.

O terceiro grupo é formado pelo que não conheço e gostaria de conhecer por diferentes razões. O primeiro deles é o Via Cassia, vinho da Puglia feito a partir da Primitivo. Trata-se de uma uva que rende vinhos mais doces e a Karyna curte essa casta. O Boas Eiras fica na fronteira do risco, pertinho do Origem. Uvas vindas de diferentes regiões de Portugal a preço baixo costuma dar errado para o meu paladar, mas eu faria uma tentativa tímida diante do preço anunciado (R$ 25). Por fim, o espumante Brut da Fantinel eu compraria pela casa. Trata-se de algo vendido na Wine e conheço tintos e brancos muito corretos dessa produtora. Não vejo motivo pra não conhecer este.

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Fonte: Manual do Homem Moderno

O quarto grupo é formado por aquilo que não conheço e, no que depender de mim, não conhecerei. O Nero Moscato me desagrada pela uva, mas conheço outros espumantes da casa e são simples e razoáveis para um brinde despretensioso. Aqui travo na casta. O Anciano vem de região que me desagrada, com rótulo e redinha metálica que oferta todo semblante de armadilha espanhola barata. Nesse tipo de armadilha eu não caio por dose de preconceito e muita vivência. Por fim, o rosé frisante da Salton, tipo de vinho que não tem como começar a pensar em tomar. Nada contra os rosados que tanto admiro, mas frisante e demi-sec não passa na garganta tamanho o excesso de doçura. Vinho de galera de 18 anos tomar na piscina ouvindo playlist de bandinha teen. Tô fora! Mas entendo que possa ser divertido. Tudo tem sua fase…

Conclusão: perceba que tem mais coisa que não gosto ou sei que não vou gostar que o contrário – eu aprovo ou beberia cinco dos 13. Isso não minimiza, de forma alguma, o louvável trabalho de Leonardo. Primeiro porque encontrar vinho de até R$ 40 e revelar virtudes nessas bebidas é tarefa complexa. Segundo porque ele faz uma lista pra gostos variados, e quanto mais você bebe vinho, mais sabe do que gosta e do que não gosta. Numa lista eclética assim, obviamente tem coisa para paladares diversos. Assim: prove, arrisque, conheça, inove!