Restaurantes que colocam o vinho como o principal produto da casa é algo que existe em São Paulo numa quantidade bem interessante, sob diferentes propostas. Os que mais me agradam são pequenos, ofertam um semblante de combinação com loja de vinhos e servem comidinhas divertidas. Já fomos a alguns deles na cidade em que vivemos, e em muitos outros locais pelo universo das viagens. No sábado dia 28 de janeiro conhecemos a Vinoteca Paulistana, em Perdizes, zona oeste de São Paulo, capital. Por sinal: bem perto de casa. O resultado foi interessante.

Não gosto de lugares abarrotados de gente, com fila de espera e algazarra, mas também acho estranho quando somos a única mesa de um restaurante. Ao chegarmos, por volta das 21h00 se eu não estiver enganado, um casal estava pedindo a conta. E lá ficamos, eu e a Ka, solitários na qualidade de clientes até 23h00, quando fomos embora. Naquela noite tinha show no estádio do Palmeiras, bem pertinho dali. Não sei se isso tem alguma influência, mas diversos bares em volta, sobretudo de cervejas e drinks, estavam animadíssimos. Paciência.

O ambiente é bem iluminado e diversas mesas caracterizam o semblante de restaurante do local, que também possui um adorável balcão (gosto muito). Caixas de madeira de vinhos conhecidos decoram as paredes, e num segundo ambiente uma prateleira mescla garrafas de belos vinhos bebidos com as ofertas da carta da casa. Existem discretas etiquetas de preços no móvel, sob as garrafas, e o cardápio completo está no QR Code. Não existe um oceano de opções, mas o que existe é bem interessante. Antes de me sentar fiquei um bom tempo olhando para os vinhos, relembrando algumas aventuras, sem que ninguém viesse dar palpites óbvios ao estilo: “esse vinho que você está vendo por R$ 120 é ótimo, mas esse aqui de R$ 300 é melhor”. Sério? Bom, aqui não passei por isso e já achei ótimo.

Tenho muita clareza sobre preços de vinhos, sobretudo de determinados produtores, e por vezes de certas regiões. À primeira vista a casa não cobra os absurdos que restaurantes costumam praticar, mas também não pode ser vista como uma loja de valores atrativos. Perfeito. A conclusão inicial é: estou num lugar honesto, que sabe que não é varejo, mas também não empurra o cliente para abusos corrosivos e irritantes apenas porque tem taças adequadas.

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O serviço é discreto, contido e muito tranquilo. Propositalmente cacei no cardápio vinhos de menos de R$ 100, o que costuma desafiar a maioria dos restaurantes de São Paulo, quiçá do Brasil, que oferecem exclusivamente opções acima desse preço com uma naturalidade espantosa e, em certas circunstâncias, uma desonestidade horrenda. Na minha proposta, encontrei algumas garrafas bem interessantes, sendo que me chamou a atenção um espumante brasileiro brut muito correto a R$ 72 e dois chilenos tintos. Fiquei com o mais caro deles, vendido a R$ 77.

O cardápio de comidas tem bastante coisa, para diferentes gostos e bolsos. O bolinho de bacalhau da casa estava bem correto, com quatro unidades que custaram menos de R$ 30. Fechamos a noite com uma alheira frita, que estava pesada, mas nitidamente se tratava de um produto de qualidade, e um prato de gnocchi ao sugo com ragu de porco que estava muito bem feito. Nenhum desses pratos atingiu R$ 60, o que tem sido raro em São Paulo.

Tierra

Fonte: Wine

O vinho que escolhi foi um tinto da uva Carinhena (Carignan), uma casta muito utilizada no sul da França e na Catalunha. Tenho tomado alguns poucos rótulos dela produzidos no Chile e gostado bem mais do que os óbvios Carmenere, Cabernet, Merlot ou Shiraz que nosso companheiro de continente produz, sobretudo em rótulos mais populares. A preço de mercado comum nosso escolhido, o Alma Tierra 2019, que já é comercializado na Wine em sua safra 2022, custa R$ 53, ou seja, este poderia até entrar em minhas listas semestrais se tivesse sido adquirido por este preço. O vinho estava bem equilibrado, fácil de beber, se manteve vivo por todo o jantar e casou muito bem com praticamente tudo o que comemos. A experiência no local tende a se repetir, a despeito de uma noite que parecia pouco sustentável para um negócio que precisa de gente para se viabilizar. Recomendo.

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