O que vou relatar aqui é um lamento no universo dos vinhos. Trata-se de uma ausência de informação que custa caro para o consumidor, mesmo que a garrafa tenha sido adquirida numa boa promoção. A queixa, nesse caso, é ao produtor, pois a loja foi correta ao dizer que o motivo de meu choro estava lá. Eu que não li quando adquiri.

Mas do que falo, exatamente? Do vinho que contém um leve friso, um toque de borbulhas discreto na sensação de quem os coloca na boca. As razões para isso estão associadas ao gás carbônico presente nos vinhos, e que em alguns casos permanecem e caracterizam certos rótulos. Já presenciei o fenômeno em bebidas italianas, uruguaias e brasileiras, mas ele é muito mais comum entre os Vinhos Verdes, uma região específica ao norte de Portugal que tive a honra de conhecer seu “Centro de Interpretação e Promoção” em 2018, na cidade de Ponte de Lima.

Ponte de Lima

Se enganam aqueles que dizem que TODOS os vinhos verdes apresentam as tais borbulhas. Bobagem. Já bebi diversas garrafas que passam longe disso, o que não me agrada e, se fosse geral, certamente eu eliminaria tal região de minha lista de compras. E por isso o lamento: o que custa dar algum sinal para o comprador, no rótulo, de que aquela garrafa “contém pequenas borbulhas”. Certamente quem gosta compraria mais seguro, pois o contrário do que ocorre comigo deve aborrecer os admiradores. O sujeito compra um vinho verde ansioso pelo friso e nada dele constar. Percebe?

Mas por que esse choro assim? Nesse instante? Pois bem. Não escondo de ninguém que Alvarinho é minha uva predileta no universo dos brancos. Em Portugal, são vinhos verdes, que numa sub-região específica chamada Monção e Melgaço, duas cidades que conhecemos, carregam a expressão mais perfeita do que nos agrada no universo dos vinhos brancos. Geniais. Sem qualquer friso, sem borbulhas. Sem o que os portugueses chamam de “efeito agulha” – que poderia receber um logotipo e vir estampado nos rótulos. Custa?

Entre Alvarinhos varietais lembro das “bolinhas” apenas em um Torre de Lapela que bebemos em 2020 – decepcionante e doce. Mas foi só. Já entre os verdes com teor alcoólico abaixo de 11,5% ou 12% o fenômeno é mais comum. Apenas: mais comum, e não absoluto.

Sem prestar atenção a essa informação percentual, encantado com o fato de que o “Lagar Branco” custava menos de R$ 50 na Evino e era um blend de Alvarinho e Trajadura, o coloquei no carrinho. Na garrafa nenhuma menção às agulhas – a sensação de picância que o vinho te dá na língua – e feliz o comprei. Abrimos em uma noite quente de sexta-feira. Fresco, típico para tais situações. Mas ao servir, pronto. A taça deu aquela espumada, e meu humor com o vinho foi a zero. No nariz recuperei a esperança, pois a Alvarinho estava ali, viva, intensa, deliciosa como costumo achar. Mas bastou ir para a boca e tudo se desfez. Frágil demais.

Lagar

Assistindo a um filme a garrafa foi rápido, e dei mais atenção ao cinema que ao vinho. Na manhã seguinte, inspirado para escrever, fui entender quem seriam as vítimas de minhas críticas mais intensas. A Evino não pagará o pato, afinal, nos comentários da especialista está escrito: “.. e levíssimas borbulhas no paladar”. Avisaram, e conhecedor que sou desse tipo de característica que me desagrada, eu certamente teria o deixado na prateleira virtual se não tivesse feito a associação desatenta entre minha uva predileta e um valor que considero baixo para tal casta – R$ 49. Gosta das borbulhas? Curte o efeito agulha? Valoriza um Vinho Verde fácil? Pode apostar que o Lagar vai agradar.