Não me canso de tentar entender e discutir os preços de vinhos, sobretudo em restaurantes no Brasil. Faz algumas semanas estive na capital do Paraná e jantei num tradicional italiano com um amigo querido. Escolhemos o local porque havia a garantia de que funcionava até tarde no domingo. Meu voo pela Latam atrasou, o que tem sido exageradamente comum nessa companhia, e a informação do fechamento foi extremamente útil. Saímos de lá quase 23h30.

A comida não vai deixar nem um pouco de saudades, tampouco o ambiente barulhento. Local amplo em uma casa antiga, cardápio imenso, comidas em porções grandes servidas em travessas de inox, famílias intensas pelas mesas, mas algo nos chamou a atenção positivamente. Os vinhos têm preços muito acessíveis para as realidades que vivemos em São Paulo. Isso eu já havia notado e descrito aqui no blog num jantar que tive em Cascavel em 2021. Ali comemos bem demais e bebemos a preço inferior ao que se cobra em lojas. O vinho? Um Alvarinho da Las Perdices que estava muito bom. E dessa vez?

LAS Perdices

Bom, algo precisa ser dito. Na carta de vinhos chama a atenção o fato de que não apenas os nacionais e os argentinos, por conta da fronteira paranaense com o país vizinho, são mais baratos. Opções do velho mundo também estavam muito abaixo da média. Sobre a mesa um prisma trazia a promoção do vinho da semana por inacreditáveis R$ 45. Sei que se trata de algo muito simples, mas por este preço em restaurante? Em São Paulo? Duvido que seja possível encontrar. E aqui estou falando de um Porteño, da respeitada Norton, que nas lojas costuma sair por algo entre R$ 35 e R$ 45. Percebe? Mas sigamos, pois eu olhei atentamente a carta de vinhos.

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Tratava-se de mais um cardápio extenso, mas nesse caso eu me divirto e muito. A despeito de coisas dispensáveis para o meu gosto, que nunca pode servir de parâmetro para nada, nova surpresa positiva. Muitos, mas muitos de verdade, rótulos em que as garrafas estavam precificadas a menos de R$ 100. Conto sem qualquer dúvida mais de trinta exemplos entre brancos, espumantes e tintos. Não me recordo de ter visto rosados. Alguns dos vinhos eram bastante conhecidos, outros nem tanto. Fiquei com um Roca argentino, de Mendoza, blend de Bonarda com Sangiovese. Achei a combinação curiosa e resolvemos arriscar. Produzido em San Rafael, centro urbano de Mendoza, pela Alfredo Roca que, em seu site, destaca a linha de blends com ênfase em um Malbec-Merlot sem citar o rótulo que escolhemos, mas mantendo a identidade visual da linha em três opções – o citado tinto, um branco de Chenin e Chardonnay e um espumante doce, que nesse caso, se produz apenas a partir da Chenin.

roca

Por R$ 67 acompanhou bem demais uma pizza bem dispensável, sobretudo pra um paulistano chato quando o assunto é a tradicional “redonda”. Mas é o vinho? Apenas razoável, tranquilo, um pouco mais doce do que me agrada, mas a conversa estava boa demais e ele não roubou a atenção. Nas lojas mais populares tal garrafa sai por algo entre R$ 48 (Grande Adega), passa por R$ 50 na Evino e chega a R$ 55 na Bebidas do Sul. Pois é, e eu ainda tentando entender por que em Curitiba, e mesmo em algumas cidades do Paraná, bebemos vinhos a preços melhores do que em outras cidades ou estados do Brasil. Saúde.