Pronto. Cheguei ao fim de mais uma promessa idiota. Dessas que os teimosos fazem em alguma roda de bar quando estão menos racionais que o normal. Não me lembro exatamente como esta começou, mas prometi que ficaria um mês sem comprar vinhos – e que bom que fevereiro tem apenas 28 dias. A decisão veio escorada em três razões: ando gastando muito, e queria ver o efeito real de um mês sem empreender em garrafas; os estoques em casa estavam altos demais, e começava a faltar lugar para guardar, o que deixa a Ka um pouco aborrecida e; desejo viajar e precisava abrir espaço para o que pode chegar. Assim, lá se foram alguns dias sem compras.

O que ganhei com isso? O fim do mês ficou curiosamente interessante em termos econômicos. A conta estava mais redonda dia 27 de fevereiro do que o normal. Isso me alegrou. Os estoques baixaram, pois não deixei de consumir, mas apenas de comprar para trazer para casa. Isso fez com que duas caixas que estavam entulhando meu escritório partissem. Mas foi só.

O que perdi com isso? Passei vontade demais e percebi o quanto comprar vinhos é parte de uma rotina de entretenimento que me deixa muito feliz. Não estou falando em beber. Estou falando em pesquisar, entrar em lojas virtuais, passar horas navegando e conhecendo histórias. Me encantar com algo, pesquisar o site do produtor, ler sobre o conselho regulador de uma região que não conhecia, planejar uma viagem, imaginar etc. Isso é muito especial para a minha rotina. Algo absolutamente essencial.

E passei vontade e sofri mesmo no sábado de Carnaval. Esse foi o dia mais difícil. Pois além de pesquisar bastante pela internet, gosto de entrar em lojas e conversar com funcionários e/ou proprietários. Não é incomum, nesses casos, incluir clientes que por lá estão e se envolvem em longas conversas. Isso é algo muito agradável. Pois bem. Caminhando pela Vila Madalena num dia quente e ensolarado nos deparamos, na Rua Harmonia, 324, com a Wine 2 Go. Uma loja bem pequena, praticamente uma garagem, com uma estante, uma opção em taça, uma simpática lousa na porta e alguns lugares para nos sentarmos na calçada. Lá estava Murilo, extremamente atencioso e exímio conhecedor do que oferece. Começou me contando que são maiores na Baixada Santista, onde distribuem vinhos, mas que subiram a Serra do Mar e se instalaram naquele pequeno espaço. O portfólio é maior do que as estantes comportam, mas percebi rapidamente que a proposta é muito boa. Especial demais. Bati o olho, fiz algumas perguntas, trocamos algumas ideias e me senti muito bem representado pelo que vi. Quando ele me disse que a proposta é fugir dos rótulos de supermercado, a conversa ficou ainda melhor. Das gigantes que disputam lugar nos carrinhos apenas a portuguesa Castro e outras raras exceções. No mais, muita coisa interessante e algumas raridades. E o mais legal: a loja também foge das obviedades em termos regionais e de castas. Estavam lá, ao alcance das mãos, mas isoladas pela  minha promessa, algumas coisas incomuns.

O que mais me chamou a atenção? Uma garrafa de 100% Bobal que parecia bem bacana. Um raro Refosco, a preço bem convidativo, que tem sido difícil encontrar no Brasil. Duas garrafas de Monastrell de Jumilla a graduações alcoólicas abaixo dos 14%, o que não é tão comum – um deles o Parajes de Monastrell da foto. Vinhos laranjas, que estão se tornando queridinhos aqui em casa, com destaque para um georgiano. A existência de um Albariño, que nunca pode faltar, um húngaro de Furmint e mais algumas considerações. O que sei é que se não estava comprando, ao menos ganhei algo especial demais: uma excelente conversa, que me inspirou a escrever e a planejar que em março estarei na loja para, enfim, adquirir algo… Saúde!

Parajes