Semana passada mencionei que minha cara de pau para vinhos não tem limites. Foi assim que amigos findaram me apresentando a rótulos raríssimos para os nossos padrões de importação e consumo. Rússia, Japão, China e Mianmar são quatro excepcionais exemplos disso. Literalmente forcei a amizade quando soube que pessoas queridas estavam nesses países, e matei curiosidades que muitos profissionais no Brasil não conhecerão. Se quem tem boca vai à Roma, como diz o ditado, essa mesma característica pode trazer vinhos pouco comuns. Saúde!

Pois bem, tenho um amigo para quem sequer preciso pedir para ele entender que devemos sempre experimentar qualquer vinho que apareça na nossa frente. Já bebemos coisas incríveis e deprimentes. Foi ele quem trouxe um vinho boliviano e um georgiano, por exemplo. Fui eu quem lhe apresentei um vinho peruano, e tantas outras coisas que nos desafiamos em anos de uma grande amizade. Perfeito.

Faz algum tempo esse amigo querido foi morar na Europa. Seu padrão de consumo anda genial, pelas fotos que acompanho no Vivino. A vontade de estar por perto nos finais de semana para grandes degustações existe, mas paciência, vou ficando aqui pelo Brasil. E a despeito dos anos em que ele está lá, ainda não concretizamos bons passeio pelo velho continente. Isso não impede, obviamente, que nos encontremos aqui quando ele volta para rápidas visitas. A última foi no começo de 2022, e nos reservou algo absolutamente inusitado e raro sobre o qual eu já deveria ter escrito.

Como o trabalho que ele tem na França o leva com regularidade para a África, foi do Quênia que ele trouxe uma das maiores raridades que provei na vida. Sem esperar nada, lá veio um Sauvignon Blanc. Contrapus a oferta genial com um alvarinho brasileiro da Foppa & Ambrosi que estava bom, mas passa longe das características ibéricas da uva, e com um vinho de sobremesa alsaciano, a base de Riesling da Fritz-Schmitt comprado na vinícola que estava absolutamente sublime. Mas não é disso que quero falar.

Você já bebeu um vinho queniano? Até encontrar a garrafa na minha frente eu sequer sabia que aquele país, localizado na latitude 0, longe do espaço ideal entre os paralelos 30 e 50, produzia esse tipo de bebida. O que esperar? Do auge da minha ignorância, algo como o que encontramos na garrafa boliviana, ou nos peruanos, ou ainda em tantas outras coisas que primaram mais pelo caráter exótico do que pela qualidade. Nada disso. Passou longe.

LELESHWA SAUVIGNON BLANC DRY WHITE 750ML-800x800

Fonte: E-Mart – Kenya

A localização tenta ser compensada pela altitude de onde a bebida é produzida, de acordo com reportagem da Revista Adega. Assim, com uvas cultivadas nas montanhas pela Kenya Rift Valley Winery, a pouco menos de 80 km da capital Nairobi, o tal queniano estava muito, mas muito equilibrado e elegante, apesar de simples. A Sauvignon Blanc em nada lembrou alguns exageros aromáticos que o Chile insiste em fazer de maneira caricata. Aqui, com destaque para o bom gosto do rótulo, encontramos uma uva com características um pouco mais cítricas em uma bebida elegante, sendo importante destacar que o Quênia não aparece em listas de países produtores de vinho e que localizei, em lojas do país, apenas duas vinícolas. A “nossa”, que produz o Leleshwa – do Suaíli “criado / produzido” em português em livre tradução do Google, ou também uma árvore arbustiva comum no país – coloca apenas 80 mil garrafas no mercado, ou seja, além de bom o que bebemos é raro. Saúde! E que venham vinhos do Zimbábue, Tanzânia e Etiópia, que minhas pesquisas revelaram que também possuem produção…