Semana passada amigos queridos com quem tenho a honra de trabalhar me deram um presente muito especial. Quando vi o volume na sacola tinha a certeza que era uma garrafa de vinho, mas era um abridor elétrico. Ao abrir a caixa e notar a boa surpresa logo me lembrei de uma quantidade imensa de coisas que orbitam o mundo do vinho. Uma série de assessórios e tantos outros objetos. Dias depois eu ganhava de outro querido amigo o livro La Bodega, de Noah Gordon. Li a obra faz alguns anos. Uma delícia de história, com uma narrativa gostosa sobre a vida de um bodegueiro que produzia vinhos na Catalunha de meados do século XIX, em plena ocorrência das guerras carlistas. Uma excelente companhia pra uma boa rede, numa casa de campo, com taça de vinho e muita paz. Gordon escreveu, dentre vários livros, O Físico, que li aos 15 anos. Devorei a obra na praia em 1990, assisti ao filme faz alguns meses e sempre lembrarei do primeiro livro que efetivamente me fisgou a atenção. Sinceramente acho que li tudo o que ele escreveu até hoje!

Tantas coisas legais de dar e ganhar me remetem ao carinho que sentimos pelas pessoas e como elas nos reconhecem por esse amor associado ao vinho. Pois essa semana terminei de ler um livro que comprei no começo do ano: O Guia Essencial do Vinho – Wine Folly. Por detrás da obra existe um portal na internet – winefolly.com – que busca ser o pontapé inicial para compreendermos de forma simples o que existe nesse universo. E talvez esse seja o grande problema dessa proposta. Simplificar demais não é exatamente a melhor forma de vermos as coisas. O livro é extremamente bem produzido, todo colorido, papel muito elegante, com centenas de gráficos e explicações simples sobre fundamentos, estilos e regiões. Em que pese o fato de que tenho a sensação, do alto de minha ignorância, de que existem erros, também fico com a certeza de que há quase um compromisso com o simplório.

Alguns exemplos banais: na parte que trata de algumas uvas as escolhas não parecem ter critério muito claro. Por que explorar a Torrontés como uma das 16 uvas de vinhos brancos mais importantes do mundo? Ademais, em cada uva apresentada uma lista de aromas possíveis capaz de confundir qualquer amante da bebida. Lembro aqui de um amigo que entende demais da bebida e sempre ironiza essas tabelas. A Ka também se diverte, pois quando visitamos certas localidades do mundo os ambientes estão longe de apresentarem parte expressiva do que especialistas dizem sentir nos vinhos. Paciência. Quando o cérebro e o nariz se juntam para falar de algo prazeroso, tenho para mim que a criatividade é mais pesada que a razão.

Para completar a aventura fiquei curioso e fui ao site. Um portal de informações simples, que mais uma vez simplifica demais. Coisa típica de americano mediano, ou de qualquer indivíduo que gosta de ter informações rasas sobre algo. Por exemplo: na parte das uvas acessei aleatoriamente uma determinada casta. Trata-se da Bobal, espanhola que aparece muito menos do que merece e rende vinhos bem simpáticos e mais baratos que a média. A uva é relatada como “fora dos radares” – tradução livre, pois a palavra é UNDER, mas “abaixo” do radar em português é menos usual do que “fora”. Até aqui OK. Os aromas primários já empilham algumas notas e lá vêm as generalidades simplificadoras: decantar por 30 minutos e potencial de guarda de cinco a dez anos. OI? Todo Bobal tem a mesma regra? A mesma lógica de consumo e guarda? O produtor não impacta nisso? O método empregado na produção em nada abala essa afirmação? Essas generalizações são ruins e pouco ensinam. Decantar um vinho jovem por trinta minutos, em alguns casos, é simplesmente matar o pouco que ele podia oferecer. Confesso que aqui preferi bem mais meus presentes, pois o livro que comprei é BEM frágil.

 

LIVRO WF

Fonte: Saraiva