A Ka é potiguar, e todo ano vamos ao nordeste visitar a família e matar as saudades. Costumamos fazer isso no Natal, mas esse ano minha sogra fez 70 anos e lá fomos nós em março. O circuito foi atípico. Ao invés de um voo direto pra casa, passamos uma noite em João Pessoa, que eu particularmente não conhecia e fiquei encantado. Cabo Branco é uma praia bonita, acima da média das praias urbanas do Brasil, bem estruturada, segura e muito agradável. Foi lá que ficamos. Um banho de mar calmo na maré seca e muito sol. O food parking localizado na principal avenida da orla tem boas opções, incluindo um veículo de cerveja artesanal bem bacana, com várias opções do nordeste – com destaque para as pernambucanas.

Mas onde tomar um bom vinho na capital paraibana? De preferência que fosse refrescante, pois estava quente. A primeira dica que nos deram foi a Adega do Alfredo, e com esse nome só podíamos esperar uma boa carta de vinhos. A casa, no entanto, era um pouco distante de onde estávamos e exigiria carro. Como bebida não combina com direção e estava com preguiça de andar de táxi – isso sempre! – preferimos caminhar até um restaurante chamado Olho de Lula. E foi aqui que nos sentimos de volta a um passado econômico agradável.

Um prato de peixe com arroz ao molho de camarão custava R$ 89 para duas pessoas – e dada a generosidade, um idoso ou uma criança de até dez anos completaria o time sem prejuízo. Mas o que chamou a atenção foi a carta de vinhos. O nordeste continua me surpreendendo negativamente pela quantidade de gente que gosta de bebidas quentes naquele calor. Não vou nem falar da quantidade de doses de whisky servida em festas, mas nesse caso especial destaco a galera que gosta de beber um malbec argentino – incluindo balde de gelo e mesa no vento da beira mar. Difícil, mas gosto não se discute, apenas se lamenta.

O que mais queríamos era um branco ou um espumante, algo mais adequado ao clima. Foi quando uma pequena propaganda na mesa me chamou a atenção: vinhos brasileiros, do Rio Grande do Sul, a R$ 48 no restaurante. Isso existe em São Paulo? Estou falando de um restaurante agradável e conceituado. A pequena carta do Olho de Lula tinha várias opções abaixo de R$ 100, algo que em muitos lugares paulistanos não existe mais. Ontem fui almoçar num conceituado restaurante de Higienópolis que tem a coragem de cobrar mais de uma centena de reais num Alamos ou num Tarapacá. Paciência, ficou na adega.

Na Paraíba tomamos um Casa Perini, gaúcho da promoção, método charmat, brut, que nas lojas virtuais sai por pouco menos de R$ 40. Estava um pouco menos ácido e mais doce do que o meu paladar gosta, mas casou bem com a comida, refrescou a alma e, principalmente, o bolso. O jantar completo, com água e sobremesa, saiu por menos de R$ 150. Onde existe isso em São Paulo? João Pessoa agradou em diversos sentidos!