Sábado à tarde. Nada é mais mágico em termos de espírito. Depois de comermos um polvo original dos pulpeiros instalados aos finais de semana pelas ruas de Ribadavia e bebermos um Treixadura bem comum, foi possível acessar um pequeno guia local de bodegas e descobrir que a partir de uma mensagem de WhatsApp poderíamos visitar a Cuñas Davia / Valdavia, nos arredores da cidade, por um valor simbólico. Bora?

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A casa se orgulha de produzir vinhos desde o século XII, isso mesmo, desde os idos dos anos mil, cento e tanto. E isso a gente tinha que ver. A chegada não foi fácil, a região é tranquila demais, e quando passamos com o carro os poucos moradores olharam desconfiados. Bobagem. Seguimos em frente e encontramos alguns vinhedos, duas construções de pedra bem antigas, uma estrutura mais nova e tudo fechado. Cheguei a duvidar que haveria algo ali nos esperando, até que mais um casal encostou o carro. Me aproximei, trocamos ideias rápidas e eles estavam ali pelo mesmo motivo que nós. Maravilha. A participação deles acaba aqui, pois não houve grandes interações.

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De uma porta no segundo pavimento da construção mais atual surgiu um jovem de doma – a roupa dos chefes de cozinha. Nos disse que estava terminando um almoço harmonizado e nos receberia em alguns instantes. Não tardou para um grupo de amigos bem alegre e falante deixar o local. E iniciamos a visita sentados num lounge ao ar livre, numa tarde fria aquecida por um sol delicioso com alguns petiscos e algo para beber que passa longe de minha memória – aqui a diferença entre ser aventureiro e jornalista. O primeiro sou eu, o segundo não sei de quem se trata.

A história da vinícola nos foi contada de forma semelhante àquela do site. E a caminhada era curta. As casas de pedra bem antigas escondem instalações modernas para a produção de vinhos. A estrutura secular de pisa hoje é apenas um depósito para garrafas e um cenário interessante para a contação de histórias. Confesso que não simpatizei tanto com o estilo do enoturismo apresentado, sobretudo porque nosso anfitrião se mostrou um verdadeiro faz tudo – trabalhador no sentido amplo do termo. Cozinhou e serviu um almoço sozinho, estava nitidamente cansado, tinha que explicar os vinhos, não contemplou algumas das perguntas por ser novo por ali etc. Mas a despeito disso, nos recebeu com bom humor. E isso é suficiente.

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Ao longo da “recorrida” provamos alguns vinhos. Duas linhas são produzidas. A mais simples chamada de Flor de Margot entrega um branco a partir da Treixadura e um tinto de Mencía. Trata-se de algo bem simples, relativamente em conta, que não deixou saudades. O tinto foi na sacola e bebemos em Portugal alguns dias depois jogando dominó – OK. A linha superior, Cuñas Davia, leva o nome da casa. Aqui o tinto mescla a uva anterior com Caiño Longo, Sousón e Brancellao – uvas que poderíamos entender como autóctones do norte de Portugal e da Galícia. Estava bom, o melhor de todos eles, numa garrafa bem pouco comum em termos de formato, mas nada muito especial. Os brancos servidos eram bons, mas a madeira apresentada naquele que bebemos não me agradou. Na hora de irmos embora, o que veio de mais interessante foi um livro sobre os judeus locais em séculos de história. A conversa terminou no que se pode chamar de restaurante. Escrevo assim pois se trata de uma cozinha aberta e de uma mesa onde são servidas refeições harmonizadas sob agendamento. Um espaço que oferece uma vista simpática dos vinhedos e uma experiência que pode ser agradável. A descrição dos pratos não inspirou tanto, e fomos embora com a sensação de que fizemos um passeio legal para uma tarde de sábado – nada muito além disso.

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