Foz do Iguaçu é um dos destinos mais procurados por turistas em todo o Brasil. A estrutura da cidade é excelente, e a cada intervalo de tempo que fico sem aparecer por lá, me surpreendo com coisas novas e sofisticadas. Dessa vez, cinco anos depois da última estada, foi possível notar uma melhora expressiva da cena gastronômica e cervejeira. Mas meu espaço aqui se dedica aos vinhos. Assim, esqueça os maravilhosos parques e ignore o Paraguai, até porque a super ultra adega da famosa e estruturada Monalisa, loja de Ciudad del Este, anda proibitiva, apesar de uma variedade absurda de vinhos incríveis.

O ponto que mais chama a atenção para nós aqui é Puerto Iguazu, cidade do lado argentino da tríplice fronteira. Por sinal, para avistar esse encontro de nações, além de um parque do lado brasileiro e outro do lado argentino, no Paraná construíram uma roda gigante climatizada incrível que oferta uma dimensão muito bacana do que é este local. Grudada nela, por sinal, está ficando pronta uma segunda ponte para o Paraguai, com estrutura viária muito bacana. Em breve será mais fácil cruzar as fronteiras. Mas desviei novamente do assunto.

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Faz alguns dias fui convidado para uma fala rápida em Cascavel, que deve ser considerada como alternativa mais barata em termos aéreos para quem não consegue promoções de passagens para Foz. De lá, 140 quilômetros de carro alugado em uma estrada razoável e duas horas depois eu e um querido amigo estávamos chegando ao hotel em Foz. Eram 15h00 de uma sexta-feira e o anfitrião nos disse que atravessar para a Argentina tem exigido paciência demais em filas imensas – leve o RG original. Mas que naquela hora o fluxo devia estar suave. Bingo! Precisamos de apenas 20 minutos para chegar a Puerto Iguazu.

Na cidade vizinha existem restaurantes muito bons a preços razoáveis para quem mora em São Paulo, a onda da cerveja artesanal já chegou, tudo é muito simples, a famosa feirinha é dispensável, mas merece ser conhecida, e opções de hotéis não faltam. Por sinal, não ficamos desse lado porque nosso voo de Cascavel para São Paulo era cedo no domingo, e vai que a fronteira trava… Pois bem. O que mais existe na cidade são lojas de vinhos, com garrafas a preços assombrosamente baratos para o que costumamos pagar em bons comércios no Brasil. E aqui estão os cuidados essenciais a serem tomados. Vamos lá.

Três grandes lojas são as mais famosas da cidade: Caminos del Vino, Don Jorge e Oda. Nesta última fomos bem atendidos, mas preferimos as demais. A primeira é um pouco mais cara, mas trabalha com produtos mais sofisticados, tem o melhor ambiente, o melhor atendimento e costuma embalar os produtos comprados de forma bastante segura para o despacho. Alguns exemplos de preços podem ser dados. A World Wine traz para o Brasil os vinhos “italianos” da Bira Wines de Mendoza, com o Tanito a R$ 180 e, em outras lojas, o Brunetto custa algo perto de R$ 270. Na Caminos o primeiro saiu por R$ 54 e o segundo a R$ 81. Percebe? O nível é esse. O Alvarinho da Las Perdices custa mais de R$ 100 em lojas no Brasil, e lá ficou por R$ 42.

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Já na Don Jorge, o serviço é menos atento, a loja é bem mais cheia, movimentada, e os preços são um pouco melhores, mas nitidamente o cuidado com o vinho está um degrau abaixo. Ainda assim, vale investir. E pela primeira vez comprei aqui – as outras ocasiões na cidade me levaram exclusivamente à Caminos. Bons exemplos aqui são: Escorihuela Gascón The President’s Blend por R$ 95, ao invés dos R$ 250 pedidos na Grand Cru. Ou ainda, R$ 76 no Humberto Canale Grand Reserva Pinot Noir, sensivelmente abaixo dos R$ R$ 230 de algumas lojas. O nível é esse.

Mas isso exige alguns cuidados. O primeiro deles: a esmola é muita, o santo desconfia, mas pode ser pior. Não tivemos coragem de visitar uma distribuidora que só vende vinhos em caixas fechadas. Ademais, existem muitas lojas pequenas com preços ainda mais baixos. Você confia? Eu tenho dificuldade. E não estou falando em falsificação e coisas desse tipo, que também deve existir, mas em acondicionamento e cuidados com o vinho. Nas três lojas acima, sobretudo na Caminos, tudo parece mais atencioso. A solução para testar as alternativas menos estruturadas: da próxima vez ficar hospedado “do lado de lá” da fronteira por ao menos duas noites e comprar garrafas para consumir no hotel. Isso fica fácil se for feito em grupo. No dia seguinte, se der certo, investe-se.

Mas existem mais alguns pontos a serem destacados. Voltamos para a Argentina no sábado, na hora do almoço, para vermos o jogo dos vizinhos contra o México. Chegamos a tempo, mas foram quase duas horas de fila para entrar no país. Assim, final de semana exige paciência, e certos horários demandam ainda mais – à noite a fila para quem quer ir jantar ou apreciar os cassinos é infernal. Outro ponto: a Argentina passa por situação difícil em termos econômicos, e isso explica preços e coisas dessa natureza. Comprar pesos no Brasil pode ser uma boa alternativa, mas precisa verificar as condições de câmbio. O dólar nas lojas de vinhos estava a cerca de R$ 5,70, nada muito diferente do comercial praticado por aqui com algum ágil. Em Real a conversão tem funcionado da seguinte maneira, e parece benéfica se pensarmos nos valores oficiais da moeda: nas lojas de vinho divida o preço em pesos por algo entre 50 a 53, na melhor das hipóteses. Ademais, tanto na Caminos quanto na Don Jorge, sobre o valor se aplica 15% de desconto se o pagamento for feito em dinheiro vivo. Vem aqui um novo desafio: andar com notas, o que perdemos o costume de fazer, mas praticamos dessa vez. Se lá eles ganham com essa conversão, é fato que nós ganhamos também. O valor que investi para trazer minhas 13 garrafas para o Brasil, em duas passagens para o vizinho, está estimado em quatro vezes menos que o preço que pagaria por aqui. Isso mais do que compensaria a viagem, mas como me diverti demais, nem estou contabilizando passagens, carro, hospedagem etc.

Por fim, ficam as dicas para o transporte aéreo. Na cabine do avião os voos domésticos no Brasil permitem o embarque de até cinco litros de líquidos acondicionados de acordo com o padrão do fabricante, o que significam seis garrafas de 750 ml. Cada volume não pode ultrapassar um litro. No bagageiro as garrafas devem estar muito, mas muito bem protegidas e embaladas na mala ou em caixas – lembrando que a companhia aérea não assegura esse tipo de produto. Dessa vez, não tive a sorte que me acompanha faz 15 anos, pois fui descuidado e displicente com os vinhos que coloquei na mala. Resultado: uma garrafa, a mais barata, quebrou e manchou algumas roupas que estou tentando salvar. Espero que as dicas tenham ajudado. Boa viagem! E bom “enoturismo de compras”…

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10 das 13 garrafas compradas!

 

Ps. As roupas foram salvas e passam bem. Todas…