Faz alguns meses ensaiamos uma viagem para Curitiba com o objetivo de conhecer o cinturão de vinícolas que circula a cidade. Queria entender se era algo que produzia apenas os vinhos coloniais, dos quais corremos de boca fechada, ou se tinha coisa fina sendo produzida nos arredores da capital paranaense. Respostas positivas aqui poderiam indicar algo muito especial: seria o único destino turístico brasileiro capaz de associar uma capital com ótima sofisticação gastronômica e um bom roteiro de enoturismo. E para nossa surpresa, é assim que tudo se mostrou. Quem curte viajar em torno do vinho e quer uma cidade muito bem estruturada, com cultura e pujança, pode apostar nesse passeio.

Não estou colocando Curitiba no roteiro absoluto do vinho, pois nitidamente no Paraná o enoturismo ainda é algo secundário. Mas vale demais incluir essa parada, sobretudo para quem tem esse tipo de passeio como algo secundário ou entre aqueles que já conhecem muito desse tema pelo Brasil e quer começar a entender os destinos menos óbvios. Assim, tenha em mente que em Curitiba tem muita coisa para se curtir e o passeio enoturístico fica genial: restaurantes, cafés, centros de compras, cervejarias, museus, parques lindos e cultura.

Aterrissamos no aeroporto Afonso Pena, pegamos facilmente um carro na Alamo e depois de cerca de 40 quilômetros de estradas muito bem estruturadas estávamos na Vinícola Fardo. Uma casa grande, à beira de uma rodovia. Fomos bem recebidos, e Diego nos levou imediatamente para as salas onde estão os tanques de inox e as barricas de carvalho. A história é simpática, associada ao sonho de um senhor, e a estrutura impressiona positivamente, nada muito diferente de muitas das casas que já visitamos em diversos países. A gentileza e a receptividade se destacam, sobretudo com Sueli – que me vendeu mais vinho do que eu imaginava comprar. A decepção é uma só: as uvas vêm de outros estados, sobretudo de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Ou seja: a casa vinifica, como se fosse uma grande garagem, como diriam os franceses. O empreendimento é imenso, com restaurante e espaço para eventos. A pandemia certamente atrapalhou, mas estão todos lá, protegidos e trabalhando em segurança.

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A prova de vinhos foi tímida, mas muito simpática. Sequer engoli o que coloquei na boca por uma questão legal: eu estava dirigindo. Os vinhos que passam por barrica parecem bem interessantes, tanto os tintos quanto os brancos. O destaque nesse segundo grupo é um Viognier. Esses passavam de R$ 100 e resolvi olhar para uma linha “Da Família” com preços inferiores a R$ 45. Aqui compramos os fáceis Pinot Noir e Merlot, que bebemos no hotel de maneira ligeira e refrescante, e um Malvasia que no nariz parecia doce, mas na boca se mostrou ácido e cítrico. Esse veio pra casa para encontrar um bom prato de marisco. O Chardonnay da linha Casa também merece atenção, assim como os tintos Merlot e Tannat que compramos – esse último bebemos uma garrafa em Curitiba e estava muito correto, já o primeiro bebemos ontem e se mostrou um pouco difícil. Ainda provamos, e gostamos, do blend Encontro Harmonia. Sugiro que em tempos mais amenos o visitante opte pelas degustações, mas cuide bem do fato de que alguém terá que ser “o motorista da rodada”. As vinícolas do cinturão enoturístico de Curitiba exigem trechos pequenos de rodovias. Assim: atenção! O que garantirá a diversão!

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