Enquanto me preparava para escrever textos específicos sobre dois supermercados de bairro que vendem vinhos a preços imbatíveis, encontrei um terceiro. Superville e Sacolão da Lapa têm aparecido com frequência em minhas listas mais recentes de vinhos de até R$ 55, mas agora é a vez do Violeta. A loja da Rua Tito é nova, e toda decorada com leds nas prateleiras e repleta de carrinhos que fazem alusão ao nome do estabelecimento pela cor. Vou aderir fortemente às ideias de quem defender um certo déficit de bom gosto, mas não entro em mercado pra tirar foto, tampouco sonhando com um ambiente “instagramável”, mas sim pra fazer compras. O Superville e o Sacolão, nesse quesito, são os campeões de improviso e mau gosto, mas quem os bate quando o quesito “preço de vinho” está sobre a mesa? Ninguém. Então vamos às bebidas e às razões desse texto, considerando um terceiro endereço.

O Violeta sempre se notabilizou, pelos lados do Butantan, por vender cervejas especiais a preços muito baixos. Um amigo sempre cantava uns valores inacreditáveis em suas compras, associadas a bebidas perto da data do vencimento, o que não representa problema algum. Para termos ideia do que estou dizendo aqui, a garrafa individual da Goose Island Session IPA, minha industrializada predileta nos últimos meses, saiu por R$ 3,19 ao longo da semana, apenas porque o vencimento está marcado para o dia 23 de junho de 2023. Tem como resistir? Mais barato que uma lata da medonha Original!

Mas e a Adega? Pois bem. Abundam os vinhos argentinos e chilenos, bem como alguns rótulos de casas mais comerciais do Brasil. Nada disso me agrada tanto, mas segui firme em algumas visitas e notei que portugueses, espanhóis e italianos eram ofertados a preços bem acessíveis. O exemplo mais emblemático está associado à Manz. Trata-se de uma vinícola de ex-atleta profissional brasileiro nos arredores de Lisboa, uma denominação de origem que não me agrada muito. Mas a casa é boa, fica pertinho de Mafra, e descobriu no começo de suas atividades uma casta autóctone chamada Jampal que havia sido esquecida. O Dona Fátima, branco, é intenso e casa perfeitamente com um bom bacalhau com natas. Irresistível, sobretudo porque empolgado com a novidade meu sogro chegou a comprar uma caixa faz alguns anos. Bebemos.

Outros rótulos da Manz apareceram, e no Violeta me deparei recentemente com o Platónico e com o Penedo do Lexim – vinhos de entrada da vinícola. Preço normal encontrado na internet: respectivamente R$ 70 a R$ 60. Valor localizado no Violeta: menos de R$ 50 cada. Preço no site da vinícola em Portugal: cerca de 10 euros cada garrafa. Percebe? Cruzar o oceano barateou o vinho, algo que notei por alguns anos com o Las 2 Ces, da Chozas Carrascal. Resultado? Comprei ambos.

Tratam-se de dois blends portugueses bem típicos em suas castas. Repito: não gosto da região de Lisboa, mas aqui não há muito segredo. O Platónico 2018 tem 14,5% de álcool e por mais que tenha se mostrado um bom vinho, não agradou tanto o nosso paladar. Na boca lembrava certa doçura dos vinhos de Jumilla, da vizinha Espanha, em sua expressão mais exagerada da Monastrell. Já o Penedo do Lexim 2018, com 13,5% de álcool, estava absolutamente agradável. Uma surpresa daquelas que te tiram do sofá e te levam pro computador para entender o vinho que custa 9,5 euros na vinícola. Equilibrado, um pouquinho menos ácido do que nos agrada, trata-se de uma bebida que ganha em certa complexidade nada condizente com o valor cobrado. Muito bom, a ponto de merecer visita no estabelecimento para a compra de mais duas garrafas.

Platonicopenedo do lexim

Bastariam estes dois exemplos para registrar o quanto vale garimpar no Violeta, mas recentemente vivi algo igualmente interessante. Por R$ 39 comprei o Convento da Vila, rótulo de entrada da famosa Borba, no Alentejo, apenas para preencher uma caixa de seis unidades que trazia o meu par de Penedo do Lexim. Promoção, preço baixo, se der errado vai para a panela. Mas deu certo. O vinho é simples, e voltei para pegar mais duas garrafas, pagando R$ 31. Na internet, trata-se de um vinho encontrado por mais de R$ 35 e menos de R$ 55. Em Portugal, a bebida circula na casa dos 3,0 euros com impostos. Ruim? Pois é: tinha todo potencial do mundo para ser, mas o vinho estava equilibrado, fácil, tranquilo, e tem o pedigree do Alentejo, a despeito de sua simplicidade. Resultado: mantenho viva minhas expectativas de que o Violeta entra no circuito de mercados da Lapa onde encontramos preocupação com a oferta de bons vinhos a preços bem interessantes. Saúde.

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