Faz alguns anos mudei radicalmente minha visão sobre os vinhos uruguaios. A ponto de abandonar chilenos e argentinos na América do Sul, juntando esse novo local aos vinhos catarinenses que aprecio bastante. Minhas estatísticas recentes mostram que os mais populares vinhos vendidos em nosso país deixaram de fazer sentido. Tomo argentinos e chilenos? Óbvio que sim. Gosto? De muitos deles. Mas deixei de considerar tais países em minhas compras.

A certeza acerca dos uruguaios começou quando percebi que a dureza da Tannat – a uva carrancuda do país – estava dando lugar a uma bebida domada e extremamente bem combinada com tantas outras. Os 100% varietais dessa casta estão melhores, mas quando vem adicionada a um Merlot, um Tempranillo, um Cabernet (Sauvignon ou Franc) a brincadeira ganha qualidade. Até com a branca Viognier a diversão é certa.

Ampliei o sentimento positivo pela bebida uruguaia quando estive com a Ka em Colônia do Sacramento e Montevidéu em 2014. Optamos por tomar vinhos mais raros, de pequenas casas, e nos demos bem. Tão bem quanto em jantar recente na casa de amigos que nos serviram um vinho feito à base de Chardonnay, produzido em Carmelo por pequenino produtor que estava divino. Ou em aniversário de um outro grande amigo que só serviu uruguaios tintos. Uma bela festa!

Mas para completar de vez essa admiração faltava um lance final. Faz alguns anos, lendo o caderno Paladar, do jornal O Estado de S. Paulo, me deparei com matéria que falava sobre a plantação da galiciana / portuguesa Alvarinho (Alvariño) em terras uruguaias. A casa responsável era a novíssima Bodegas Garzón, um projeto ousado, de absoluto bom gosto nas proximidades de Punta del Este que produziu seu primeiro vinho em 2010. Trazido para o Brasil pela World Wine, corri para buscar exemplares e nunca mais deixei de valorizar o produto dessa casa. Conheço quase tudo o que eles produzem – o Alvarinho é muito acima da média, o rosé feito de Pinot Noir é ótimo e o Tannat varietal doma a uva, colocando o vinho sob a lógica de bebidas muito agradáveis e de ótimo custo x benefício. Para se ter uma ideia, esses vinhos custam menos de R$ 100 em São Paulo, e cerca de R$ 40 no Uruguai.
Tamanho respeito por esta casa nos levou até ela. Buscando um pouco de paz fomos até o inóspito povoado de Garzón. Um local que já foi considerado cidade fantasma, e talvez ainda receba algumas assombrações – sobretudo no inverno, quando durante alguns minutos de uma tarde nublada apenas eu, a Ka, dois gatos e três cachorros marcávamos presença na praça principal. Antes dessa visita, passamos na bodega.
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A Garzón inaugurou o prédio principal de sua vinícola – não confundir com outro projeto, na mesma região e do mesmo grupo, ligado ao maravilhoso mundo do azeite – em março de 2016. Trata-se de construção com quase 20 mil metros quadrados, um restaurante muito bonito, uma lógica super sustentável e um bom gosto deslumbrante.
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O passeio mais simples pelas caves dura cerca de 50 minutos e são servidos três vinhos varietais. A funcionária que nos atendeu, Vivian, é extremamente simpática e fala um português simples e rápido. Fizemos o passeio com uma turma alegre, mas que em instante algum foi inconveniente. Pagamos o equivalente a R$ 50 por pessoa e saímos com a sensação de que o gosto pelo vinho da casa, agora, é acrescentado pela admiração a um projeto espetacularmente genial. Saúde.
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