Foi uma semana intensa. Cheguei na sexta-feira, passeei até sábado à noite e depois disso foram 40 horas de dedicação ao módulo de Harvard do curso de pós-graduação em liderança do Centro de Liderança Pública. Puxado! Uma semana nervosa de escola. Em matéria de assistir aula eu andava bem fora de forma…

A despeito de tal aspecto, o que foi possível apreender em termos de vinho por lá? A primeira lição é: Massachussetts faz cerveja como poucos, e serve muita coisa de qualidade feita por todo o país. Assim: a “bebida oficial” não é o vinho. As IPA’s (Indian Pale Ale – as tais lupuladas) são imbatíveis, e foi difícil resistir a elas em todas as noites dos oito dias de viagem. Todo fim de tarde um bar novo, mas a saideira (Last Call) levava sempre ao mesmo endereço no caminho de casa: o bar Park, onde servem a Founders Outmeal Stout (escura) na pressão (draft beer). Basta pedir uma Nitro e terás esse néctar diante de ti. Anote o endereço e não perca: 59, JFK Street, Cambridge – a cidade conurbada a Boston que deve reunir a maior quantidade de genialidade por metro quadrado do mundo, pois lá estão Harvard e o MIT. Só isso.

Mas voltemos aos vinhos. Comprar bebida no estado exige ações incomuns para nós brasileiros. O passaporte é requerido em alguns lugares. Vi algumas lojas de vinho ao longo de avenidas próximas de Harvard, mas não consegui entrar. Ainda assim, foi num supermercado daqueles grandes que comprei dois bons exemplares. Aqui as primeiras percepções. As garrafas não ficam expostas nas prateleiras como no Brasil ou na Europa. Salas especiais são montadas e existe restrição à entrada. A bebida é comprada dentro desse anexo, paga e colocada numa sacola preta. Os produtores dos Estados Unidos dividem o mercado com a Argentina, o Chile, a Itália, a França, algo de Espanha e Austrália. É só. Ao menos nos lugares mais populares é isso que encontramos. Está ótimo, não? Entre os americanos destaca-se forte oferta de californianos, sobretudo a base de Pinot Noir ou Cabernet. Apostei no primeiro e me dei bem demais. Um vinho de US$ 15 feito pela Michael Skurnik e chamado “The Pinot Project”. “What nice Project! Very good…”. O segundo vinho da noite, Italiano, pouca coisa mais caro, foi um Bolgheri Rosso, Lot 119, muito equilibrado. Feito a partir das castas Cabernet Sauvignon, Merlot, Petit Verdot e Caberne Franc agradou demais. A lógica dos super toscanos em um vinho acessível e mais encorpado.

Pinot

Nos demais dias me encontrei com dois tintos servidos em eventos na universidade que não deixarão saudades – os vinhos! Parece haver espaço crescente, na tentativa de buscar apreciadores, para bebidas cada dia mais doces. E isso incomoda demais. Nesse caso foram dois californianos, o mais difícil o Sea Ridge produzido com Carbernet Sauvignon. Me fez lembrar a doçura exagerada de alguns argentinos, e tenho para mim que nossos vizinhos não açucararam suas bebidas à toa. Argentinos têm vendido demais nos Estados Unidos.

Por fim, duas experiências interessantes. A primeira delas no Public Market, em Boston. Não estou falando do famoso e procurado Quincy Market, e tampouco dos mercados Norte e Sul que o acompanham. O mercado público é ali perto, mas não está tomado por restaurantes simpáticos – no Quincy experimente o Oyster Bar. Se tiver com sorte o atendente se chamará Fabrício, um simpático paulistano da Bela Vista, belo!

O Mercado Público é um daqueles locais repletos de produtores locais expondo seus produtos. Coisa fina de verdade, espaço gourmet fino, feito com o dom que os americanos têm para produzir suas conquistas. Lá você certamente se apaixonará pela Hopsters Alley, uma loja de cervejas genial. Mas o assunto é vinho. Então vamos lá: a Massachuttes Farm Winery ans Growers vende vinhos do estado. Fiquei extremamente curioso e fui contemplado com a possibilidade de fazer algumas provas. Aí veio o problema: o que provei estava difícil. Os tintos são muito leves, lembrando vinhos simples, quase simplórios. Tendo a acreditar que na faixa dos US$ 15 a US$ 20 será difícil trocar a Califórnia, e quem sabe o Oregon, pelo estado em que eu estava. Paciência, e espero que seja apenas uma impressão superficial.

Public Market

A segunda experiência foi no Cardullo’s Gourmet Shoppe, um empório em Cambridge, da década de 50 que vende produtos de excelente qualidade ao lado do campus principal de Harvard. Ali é possível encontrar uma pequena, mas requintada variedade de vinhos para diferentes bolsos. Trouxe um italiano do Piemonte e comprei um Pinot Noir californiano para presentear. Tenho certeza que se tivesse mais tempo, e se a Ka estivesse comigo, ali seria ponto certo para grandes diversões. Conclusão da viagem: se for beber fique com as cervejas, sobretudo as IPA tiradas na pressão, mas não é nada impossível encontrar vinhos pelas ruas de Boston e Cambridge, por mais que não seja essa a especialidade da região.

Cardullo's