Amigo me enviou mensagem perguntando o que eu achava do Pinot Noir da Don Giovani, Rio Grande do Sul. Já vi esse vinho nas lojas virtuais e nunca o comprei. Mas a uva se tornou febre aqui em casa, e entre 2019 e 2021 foi a casta mais bebida – esse ano ela lidera com certa margem sobre a Chardonnay, de onde tiramos a maioria dos espumantes que bebemos. Trata-se de uma bebida que varia bastante entre os países e produtores, mas costuma ser descrita da seguinte forma:

A graça de um bom vinho Pinot Noir está no bouquet repleto de aromas e nas diversas sutilezas e nuances que o vinho é capaz de oferecer. Por não ser tão óbvio, é tido por muitos apreciadores como um vinho para especialistas. Na verdade, é muito fácil se render aos encantos de um bom Pinot Noir, que combina grande elegância e sofisticação com saborosas notas de fruta. É um vinho de taninos suaves e ótima acidez, o que o torna incrivelmente gastronômico. A Pinot Noir é uma das melhores uvas para exemplificar o conceito de terroir. (portal da loja MISTRAL)

O que me chama a atenção na definição da Mistral é a ideia de “um vinho para especialistas”. Não me considero assim, mas pelo excesso e variedade de experiências imagino que hoje consiga compreender algo sobre o que estou bebendo, e só a partir disso comecei a apreciar demais essa casta – que realmente tem um dom absoluto de surpreender. A partir disso, considerarei nesse texto apenas a pinot noir nos tintos varietais, tirando também os espumantes onde ela predomina, e os rosados, bem como apagando os repetidos. Cheguei a 38 rótulos de diferentes países, preços e características bebidos entre 2019 e agosto de 2021. Note, de saída pelas imagens, que os pinot’s são ofertados naquelas garrafas mais “bojudas” chamadas de borgonhesas. Pudera: pinot é a uva da Borgonha.

Por preço pago, ou estimado por ter sido comprado fora do Brasil, dez deles ultrapassariam R$ 100 no ato da compra. Aqui o destaque absoluto são os norte-americanos. Os vinhos do Oregon que a Ka trouxe de diversas viagens a trabalho para os Estados Unidos são muito bons. Vou destacar: Machine Breaker – We the People, Maysara 3 degrees e Les Brebis. Velho conhecido aqui em casa, o o último Gothic Nevermores não agradou tanto. Também quero enfatizar um achado, comprado na Vinci em uma promoção, que veio da Califórnia, onde os Pinot´s são menos delicados que no Oregon e com um pouco mais de potência, a depender da região, entregam ótimos rótulos. Falo especificamente aqui do Grayson Cellars.

maysara_3degrees_pinot_noir_hq_bottle

Ainda nessa categoria mais cara um vinho trazido da Alemanha impressionou: o Schloss Ortenberg – Alte Reben. Envelhecido em carvalho, vindo dos arredores da Floresta Negra, o compramos diretamente na vinícola e nos deliciamos com cada gole de sua safra 2016. Agradou demais também um francês da Alsácia que bebemos durante a viagem citada: Runz, 2016. Fecha a lista o Neròt, italiano que nos decepcionou pela ausência de personalidade.

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Abaixo dos R$ 100 no ato da compra, e sei que muitos já não são encontrados por esses valores que paguei, destaco um argentino da Patagônia – o Aniello 006 River Side que compramos na World Wine. De lá também veio o Duck Shoot, da Austrália, um degrau abaixo, mas muito bom. A decepção aqui é da Bulgária e atende pelo nome de Soli – doce demais.

aniello

Do Chile vieram sete rótulos, e dois deles se mostraram muito interessantes. Primeiro o Pour Ma Gueule, projeto de vinhos inovadores que tem no varietal de Pinot uma bebida com 15,5% de álcool e um equilíbrio surpreendente. O segundo é o oposto: trata-se de tradição. Um rótulo manjado na nação andina: o Marquês de Casa Concha que estava bem redondo. Os demais: Semental, Los Riscos, Espino, Tabali Pedregoso e Ventisquero ficaram entre o comum e o acentuadamente doce, um risco que corremos quando essa uva não é bem trabalhada ao nosso gosto. Paciência.

pour

Faltou falar, naturalmente, dos brasileiros. Ao todo são 17. E dada a quantidade vou deixar a tarefa para a próxima semana. Saúde.