No último texto tratei de falar algo sobre minhas experiências recentes com a tradicional e respeitada casta Pinot Noir. Deixei para esse texto o que tenho encontrado no Brasil. Nos últimos dois anos e meio, quando a Pinot reina aqui em casa, foram 17 rótulos diferentes. Todos eles vieram do Sul, mas devemos compreender que aqui existem quatro locais distintos: a Campanha, os Campos de Cima e a região mais tradicional da Serra Gaúcha e arredores, todas no Rio Grande, e os catarinenses.

Existe um vinho aqui que se tornou um campeão de audiência em casa: trata-se do Almaúnica Reserva. Mais potente que a média, com um carvalho pronunciado, trata-se de um vinho que nos agrada demais pela ausência de uma doçura exagerada presente na maioria dos chilenos, por exemplo. Esse é o nosso querido, sobretudo porque em muitos lugares era vendido a mais de R$ 100, mas na Expresso do Vinho, no Sul, era despachado a R$ 75 faz pouco tempo. E nesse caso é a expressão mais bem acabada da aliança entre preço e qualidade.

almaunica

Ainda em relação ao que existe de positivo, os dois melhores, sem considerarmos preço, vêm de Santa Catarina – a despeito de estéticas bem questionáveis associadas aos seus respectivos rótulos – gosto é gosto… O caro Villagio Grando entrega cada gole e vale o investimento. Impressiona por sua capacidade, mas custa mais de R$ 150. Já o Villagio Conti supera facilmente R$ 100, mas não deixa de ser uma opção excepcional dessa uva, lembrando os californianos mais intensos. Prove, e não vai se arrepender. No campo dos mais caros, quem não se salvou para o nosso paladar foi o Viapiana. Chegou em casa como a promessa a ser deliciada e se mostrou bem mais comum que o preço pago. Paciência, mas longe de ser um vinho ruim, pelo contrário: é bom.

 

grandoconti

A preços que variaram entre R$ 50 e R$ 80 seis garrafas se mostraram interessantes, minimamente corretas, mas dificilmente voltarão para nossa adega sem que esperemos algumas safras adicionais. São os casos de Rastros do Pampa (Campanha), RAR Collezione (Campos de Cima) e, vindo da Serra, o trio Gheller Gold Edition, Talise e Vallebello.

As decepções ficam na casa Aurora, seja o frágil varietal, que tem um preço muito acessível, e principalmente o comemorado, e nada surpreendente, Pinto Bandeira. Completam a lista um frágil e decepcionante Miolo Single Wineyard, o Don Guerino reserva, o Luiz Argenta, o Zanotto e o Sozo. Nenhum deles deixou de ser bebido até o final. Nenhum deles incomodou. Mas são vinhos mais comuns que não entregaram algo que nos faça pensar em uma nova compra.

A despeito dessas percepções mais negativas, uma coisa pode ser dita com certeza: qualquer vinho acima, exceção feita ao Aurora Varietal, que custava menos de R$ 30 e era bem comum, vai entregar algo minimamente correto para diferentes paladares. Mas enfatizo: os catarinenses e o Almaúnica são merecedores de bastante atenção. Saúde!