Toda casa que promove o enoturismo como um de seus atrativos principais tem alguma característica no estilo de visita que promove. Algumas buscam fazer isso de forma inédita em suas regiões, outras se caracterizam por seguir um padrão dos produtores locais que parecem combinar o modo de atender turistas. Variações disso não faltam, e depois de conhecermos quase 100 vinícolas de regiões diferentes pelo mundo, podemos garantir que funciona mais ou menos assim.

No Rio Grande do Sul, por exemplo: as casas de Bento Gonçalves recebem com estratégias bastante variadas. Já em São Joaquim, Santa Catarina, quando lá estivemos em 2015 todas tinham algo semelhante: recebiam, mostravam a linha de produção, cobravam uma taxa pelo serviço e convertiam o pagamento em crédito na compra de bebidas.

Curitiba não tem um padrão único, até porque as casas se espalham pelos arredores da capital e não nos parece haver um estilo. Dentre os locais que visitamos, a Araucária se mostrou muito atraente no que diz respeito ao enoturismo. Notei no site que eu podia reservar a visita guiada com ou sem degustação, e ainda solicitar mesa para o almoço – lembrou o esquema da Garzón, no Uruguai. Mas preferimos arriscar a ida sem agenda, pois o dia estava bonito demais e entendi que por se tratar de uma propriedade rural ampla poderíamos simplesmente estacionar o carro e caminhar. Deu certo.

A casa fica a mais de 40 quilômetros do centro de Curitiba. Quando o Waze nos tirou da rodovia, um enxame de placas da casa nos conduziu até a porteira, dando segurança ao passeio repleto de vistas agradáveis. O pórtico da propriedade é bacana, mas ao vê-lo fiquei com a sensação de que poderíamos cair na velha armadilha do enoturismo de massa, ao estilo Salton. Passou longe.

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Guiei até a loja e fomos bem atendidos. Sabia que às 14h00 sairia uma visita guiada, mas ela estava lotada. Era 12h30. A moça que nos atendeu disse para ficarmos por perto, pois nem sempre as 15 vagas eram preenchidas. Achei o volume de gente bem razoável para algo que tende a ser explicativo. Como ainda faltava tempo, ela nos sugeriu caminhar com a ajuda de um pequeno mapa muito bem impresso que nos concedeu. Foi aqui que a coisa ficou ainda mais legal. Cachoeira, rio, mata, ar puro e paisagens agradáveis. Nada é imenso ou distante, tudo muito fácil, bem cuidado e agradável. Ficamos quase duas horas passeando e fomos para o restaurante, onde só se almoça com reserva. A casa não estava cheia, e ao notar que se tratava apenas de um casal a simpática Luciana nos acolheu de forma muito amável. O cardápio é simples, e sentimos falta de sugestões de harmonização, mas um prato em especial chamou a atenção: uma coxa de pato confitada com purê de abóbora e couve – se visitar, note que a estrada próxima é repleta de sítios que plantam muitas verduras, com destaque para a couve. Estava delicioso. Comida simples assim vale a pena.

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O que nos acompanhou foi um Augustifólia Chardonnay que se mostrou extremamente untado e suculento. Vinho correto demais por R$ 65, vindo de uma linha de tintos que já conhecíamos e percebemos a evolução em anos recentes. Findado o almoço, nos deitamos em algumas espreguiçadeiras penduradas em árvores e dormimos por mais de uma hora. Mais algumas conversas, uma comprinha na loja e a confirmação de que tudo o que produzem ali é plantado na propriedade: pronto! A casa completa para fechar com chave de ouro o nosso roteiro de três vinícolas na grande Curitiba. Por fim, a informação para um futuro que pode ser bem interessante: uma rede de hotéis administrará um conjunto de mais de trinta chalés no local. A Araucária está, realmente, disposta a entrar no universo do Enoturismo com E maiúsculo e bons vinhos. Que assim seja.

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