Surgiu em uma deliciosa reunião com outro casal a ideia de brincarmos de “clássico dos vinhos”. Em uma noite qualquer, normalmente aos sábados, estabelecemos o encontro de rótulos que nos agucem a curiosidade ou a excelência. Foi assim com o “clássico andino” entre um peruano e um boliviano – a maior catástrofe que bebi em minha vida numa mesma noite. Mas também foi assim entre um vinho branco de Colares e um laranja da Georgia, ou entre dois belos vinhos, um espanhol e um italiano. Várias foram as brincadeiras, sendo uma delas um encontro entre brasileiros feitos a partir de uvas tipicamente italianas. Nada técnico, apenas a diversão que o mundo do vinho pode garantir.

Pois bem: em nosso último clássico nos concentramos na Itália. Nosso casal de amigos está indo morar lá por alguns anos, com o objetivo de estudar. E assim promovemos o encontro de dois belos rótulos da região da Toscana, próximos a Florença. Dada as trajetórias das produtoras podemos afirmar ser um clássico da História: uma casa fala que faz vinhos desde o século XV, e a outra garante que na sua região existem registros de produção desde o século IX, isso mesmo, século nove.

O primeiro vinho é um Mazzei, casa do século XV ao sul de Florença que produz no Castello di Fonterutoli belos vinhos sobre os quais já tratamos aqui, tendo como tema à ocasião um delicado e valioso rosado – fruto de um dos nossos clássicos. O Ser Lapo é um Chianti Clássico Riserva, feito predominantemente a partir de Sangiovesi – regra para o DOCG local –, mas que leva 10% de Merlot. O vinho é feito desde 1983 em vinhedos que hoje têm 25 anos. Estava muito agradável e representou bem demais a lógica local em sua safra 2012. Como a própria vinícola faz questão de apontar: fresco e intenso, mostrando nesse caso específico que fizemos bem de beber agora, pois sua curva de maturidade já parecia apontar para o início muito sutil do declínio, o que representa dizer que o bebemos praticamente no auge – R$ 200 na Grand Cru.

Ser Lapo

Fonte: Vinícola

O segundo vinho nós também já tratamos aqui, trata-se de um Capezzana, casa que visitamos em 2014 e nos encantou pela hospitalidade e sabedoria. A propriedade fica a oeste de Florença, a 66 quilômetros da Mazzei – por sinal, por uma estrada local que deve ser genial. Aqui falamos faz algumas semanas sobre a safra 2008 do Trefiano, e dessa vez bebemos a 2007, pois os aplicativos que apontam a data certa para a abertura da garrafa mostram que o potencial de guarda do mais antigo é maior. E parece que estavam certos. Dessa vez o bebemos da forma correta: respirou por duas horas e nos deu desde o começo o que tinha de mais agradável. Nesse caso também predomina a Sangiovesi, com adição da tradicional companheira local Canaiolo e, a exemplo do Mazzei, a adição de uma francesa, que aqui foi representada pela Cabernet Sauvignon, que deu mais corpo à bebida e justificou a ordem que escolhemos para servir. O vinho, com mais de 10 anos, estava em plena forma – R$ 300 na Mistral, onde ainda estão vendendo o 2005!

Capezzana

Fonte: Mistral

A noite que marcou esse maravilhoso encontro de vizinhos italianos que vieram, de alguma forma para o Brasil, começou com um branco chileno que vou me reservar ao direito de explicar em outra ocasião. Por uma razão muito simples: estava magnífico. E como nossos clássicos sempre são abertos com um espumante ou um branco pra limpar a alma sem ter necessariamente relação com o principal “encontro”, deixemos esse a explicação para adiante. Saúde! Ou como dizem os italianos: salute!