Data simbólica para os cristãos, a Páscoa é comemorada todos os anos no domingo que sucede a primeira lua cheia de primavera / outono – a depender do hemisfério. Aqui no sul estamos iniciando o período outonal, e não é incomum celebrarmos Páscoas, entre março e abril, com um clima mais ameno em algumas regiões do país.

A Páscoa, a exemplo de outras datas comemorativas, tem duas características acolhedoras: comumente reúne as famílias em almoço especial de domingo, e em muitas casas são servidos belos pratos a base de cabrito, boi, porco, peixe ou bacalhau – a despeito de a sexta-feira da Paixão ter a carne branca como tradição maior.

Diante de tamanha diversidade o vinho da Páscoa dependerá do menu e provavelmente estará situado acima da média do que costumamos abrir casualmente. O desafio é compreender se estaremos em grupos menores ou em famílias maiores. Grandes “ajuntamentos”, por vezes, não permitem voos ousados por questões econômicas. Mas pensemos que amanhã (domingo de Páscoa) desejaremos tomar um rótulo bacana. E assim, buscando responder a essa demanda, fui pesquisar o que andei bebendo nas últimas quatro Páscoas – de 2012 a 2015. Descobri três belos vinhos, algumas aventuras deliciosas e uma pequena decepção.

Em 2012 a Ka preparou um peixe delicioso, e eu havia acabado de voltar de Portugal com a dica que deixei aqui na semana passada sobre os Vinhos Verdes. Assim, foi fácil demais. Um Morgadio da Torre, Alvarinho legítimo que encantou os presentes. Diretamente do Freeshop de Lisboa, devidamente gelado e perfeitamente harmonizado com uma receita bem leve. à época deve ter custado cerca de dez euros, mas aqui se aproxima de proibitivos R$ 200, sendo que em 2010 custava menos de R$ 80.

Em 2013 aproveitei para abrir um vinho que havia comprado numa liquidação de janeiro na World Wine. Esses saldos de vinho ainda merecerão um post no nosso blog. Não é incomum que algumas garrafas estejam abaixo do potencial que o vinho um dia atingiu, mas é fácil encontrar coisa boa e beber alguns belos rótulos por um preço expressivamente menor. Foi o que ocorreu em 2013. O escolhido foi um Prà, produtor de Soave Classico – região ao norte da Itália – que faz vinhos brancos muito especiais a partir da uva Garganega. Delicioso, e com 70% de desconto por ceca de R$ 30 à época ficou ainda melhor.

Morgadio     Pra Soave

Em 2014 foi a vez de uma aventura deliciosa. Acordei sábado dia 19 de abril, no Porto, encontrei amigos, bebi um belíssimo Alvarinho nos bares da beira do Douro e parti atrás de uma garrafa Magnum – aquela com 1.500 ml – para levar à casa de primos queridos em Lisboa para um almoço em família. Entrei em algumas lojas e finalmente encontrei um Dona Graça Vinhas Antigas 2008, onde predominam as castas Tourigas Nacional e Franca, e as Tintas Roriz e Barroca por bom valor. Numa só garrafa a uva predileta dos anfitriões – a Touriga Nacional – e a minha – a Tinta Roriz, que no Alentejo é a Aragonez, e na Espanha a comemorada e idolatrada Tempranillo. A mistura é bem comum em terras lusitanas, e o vinho estava genial. Minha primeira Magnum num evento delicioso. Estávamos no fim de abril – dia 20 – e ainda assim estava frio. Me fez lembrar a Páscoa de 2009, quando pela primeira vez fui à Europa e com a Ka passamos o feriado visitando monumentos históricos como o Castelo de Abrantes. O almoço, naquela ocasião, foi lula, mas com cerveja em história contada aqui!

Por fim, chegamos ao ano passado. E em 2015 errei o vinho. Um Carm, do Douro, rosé, safra 2011. Uma casa boa, que faz inclusive um belo azeite. Mas infelizmente calculei mal e a bebida se mostrou muito doce. Uma pena! Assim, o vinho rosé feito à base de Touriga Nacional, igualmente comprado em um saldo de janeiro, não foi bem. Mas confesso que aqui arrisquei abrir algo que não tinha claro conhecimento. Amanhã espero não errar, assim como desejo ter deixado claro que se a data é merecedora de um bom vinho, as chances de acerto vão depender da harmonização e do gosto da família. Opções não faltam: brancos, tintos e rosés. Feliz Páscoa.

dona-graca-vinhas-antigas-tinto-2008   Carm