Períodos de descanso trazem instantes de tédio que resultam em buscas interessantes. Nunca havia explorado algumas estatísticas do Evino, até porque não sou muito fã do aplicativo. O consulto para poucas coisas, sobretudo depois que se transformou numa loja de vinhos. Fico feliz que nesse instante de exploração consegui desativar todas as notificações comerciais, ficando apenas com uma pequena interação com outros usuários. Menos comércio e mais rede, assim parece melhor.

Uma de minhas curiosidades na exploração do aplicativo foi verificar quantas vezes dei nota máxima para um vinho, e quais eram eles, uma vez que nem tudo o que bebo é classificado. Dos quase 1.800 rótulos, menos de 10% receberam 5 como pontuação. Foram, precisamente, 14 vinhos, e pude notar que o caráter eclético de minhas escolhas prevaleceu: tintos, brancos, espumantes e vinhos de sobremesa/fortificados. Falta, apenas, um rosê. Quem sabe um dia? Mas até hoje foram apenas quatro garrafas que atingiram nota máxima igual a 4.

Entre os tintos estão seis preciosidades – quase metade. São ícones do velho mundo, com predomínio da Espanha. Lembro de forma mais emblemática do Pesquera Reserva 2003 que um amigo abriu num restaurante faz cinco anos. Estava absolutamente sublime, com todas as características amadeiradas e aveludadas de um legítimo Ribera del Duero. Ainda na mesma região, um Pérez Pascuas Gran Reserva 2000, que já rendeu história no blog, e um Alión 2006, que superou o Valbuena nº 5, que teve nota 4,5 e foi bebido recentemente. Fugindo do rio Douro em solo espanhol, mas me mantendo no país, um Clos Mogador – Manyetes 2001, bebido em 2014. Fantástico.

No continente, completam a lista um italiano e um francês. O primeiro, supertoscano, um Sassicaia 2008 bebido muito jovem, em 2015, que entregou algo perto da perfeição. E um Grand Cru de Saint-Émilion 2005, o Clos Villmeurine, bebido em 2016. Anormal.

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No campo dos espumantes, dois champagnes incríveis: um Bollinger Special Cuvée Brut e um Gosset Grand Millesimé safrado 2004. Duas joias preciosas que se juntam a um conjunto de cerca de 25 vinhos desse tipo que nunca foram classificados com menos de 3,5. Aqui interessante notar que o Bollinger teve mais de uma garrafa, e a segunda foi classificada com a nota 4. Cada rolha tem sua história.

gosset

Entre os brancos, três experiências incríveis. A mais marcante é improvável e maravilhosa: o Blanco de Guarda, La Domaine, feito com Sauvignon Blanc, da Abadia Retuerta, 2014. Bebemos já sob a pandemia e tivemos o prazer de nos sentir remetidos à região onde é produzido e o compramos diretamente na loja da vinícola. O segundo, a tradição de um Chablis Premier Cru, 2007: um Les Vaudevey 2007 absoluto. E para completar, não podia faltar um alvarinho, e nesse caso com sotaque da Galícia. Trata-se, num degrau de preço bem abaixo dos demais, mas num nível de qualidade maravilhoso, de um Colección 2015 da Pazo de Señorans, uma casa extremamente respeitada de Rías Baixas, às margens do Atlântico.

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Vamos fechar com os vinhos de sobremesa, ou mais fortificados. Um Porto Ferreira Vintage 1970, a quem os portugueses imputam o rótulo de uma das, se não “a”, safra mais perfeita da história dos seus mais tradicionais vinhos. E dois Sauternes, região visitada em 2013 que nos causou verdadeiro louvor a tudo o que lá fazem. Com a tradicional cor de ouro, duas pequenas e tradicionais garrafas de 375 ml. A primeira, um Grand Cru Classé 2008 bebido em 2021, um Château Lafaurie-Peyraguey perfeito. E de 1997, bebido em 2014, um genial Château Saint-Amand.

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Feito. E fico imaginando um jantar com todas essas preciosidades. Ou se ao menos eu pudesse escolher a Gosset para abrir os brindes, o Abadia Reuerta para os primeiros pratos, o Pesquera para as carnes mais elaboradas, o Lafaurie-Peyraguey para a sobremesa e o vintage de Portugal para aprimorar os comensais dos melhores sonhos. Saúde. E pensar que com a nota 4,5 existem outros 33 rótulos que facilmente criariam, com quem entende de vinho, polêmicas absolutas em torno de minhas avaliações e de minha eterna subjetividade. Saúde.

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