Vinhos suíços são raros fora daquele pequeno território. Os três que bebi até hoje vieram de lojas do país. O primeiro com um amigo espanhol em sua residência medieval num jantar muito agradável no Priorato. O segundo num jantar em São Paulo, com vinho recém trazido dos helvéticos. O terceiro tem uma história muito simpática. Pelas redes sociais um querido amigo me indicou que estava no aeroporto de Genebra buscando algo para comprar. Foi quando lhe encomendei uma garrafa de um vinho suíço. E ele simpaticamente me trouxe um Pinot Noir – uva que tem nos dominado – que guardei até ontem em minha adega. Denominação de Zurique, bebida produzida por um povo que consome internamente mais de 90% do que vinifica e, por isso, talvez não seja tão famoso mundo à fora. Isso não representa dizer que não têm coisas muito boas. Pelo contrário.

Suiço

Fonte: Duty Free – Zurique

Deixemos o vinho um pouco de lado e vamos ao supermercado. Dia desses estava cumprindo a tradicional lista de compras quando me deparei com um simpático queijo de ovelha. Achei bacana comprar para fazer uma surpresa para a Ka. Digo isso porque não costumamos comprar itens um pouco mais sofisticados em supermercados, mas sim em lojas especializadas ou eventos gastronômicos que se tornam bons programas aos finais de semana. Foi de diferentes momentos desses que apareceram aqui em casa uma conserva de beringela defumada, um bom pão e um excelente presunto italiano. Era o que precisávamos para nossa tradicional sexta-feira de bons filmes. E aqui mais um instante especial: escolher a título. Ficamos no Netflix com “A Livraria”, cinema europeu baseado em romance, e dirigido por Isabel Coixet. Calmo, exuberante e sensível. Delicioso.

filme

Fonte: Adoro Cinema

Tanto quanto o vinho produzido na pequena Freienstein, norte da Suíça, fronteira germânica. Tratava-se de um Wein gut Schwarz, nome em alemão com mensagem simpática “Wein gut – alles gut” – algo do tipo “bom vinho, tudo de bom” em tradução pra lá de livre. Uma peça menos comum, pouco barata para os padrões brasileiros (33 francos suíços), mas digno da data em que a Ka completa 14 anos morando em São Paulo. O sabor não era tão delicado quanto as bebidas da Borgonha feitas de Pinot Noir, lembrou na verdade um Merlot suave ou algo parecido. Sua passagem por carvalho – “Elevé en futs de chêne” em francês – lhe deu uma delicada nota que para além das frutas presentes se casou perfeitamente com o queijo de ovelha. Aqui foi amor a primeira vista. A beringela também passou com elegância pelo teste de paridade, e o embutido não ficou atrás. A sucessão de gentilezas e delicadezas, com uma boa e rara bebida, um bom queijo, um presunto correto, uma conserva deliciosa e um filme sensível parecem ter valorizado de forma mais ampla e harmônica todo esse instante. Saúde.