Entre os dias 21 de novembro e 03 de dezembro estive em Cascavel, Pato Branco, Chapecó, Curitiba, Maringá, Porto Alegre e Novo Hamburgo para aulas e palestras. Uma maratona extenuante, atenuada apenas pela boa receptividade ao trabalho realizado, bem como pelo carinho de alguns amigos queridos e por algumas descobertas no mundo dos vinhos que sempre me sossegam o coração. Se na primeira semana o carro chefe foi a visita à Vinícola RH, que relatei aqui, quero destacar outros pontos importantes desse trajeto.

Não é segredo para quem me lê a minha adoração pela uva branca Alvarinho. Seus vinhos frescos, cítricos, por vezes minerais, geniais, sempre me despertam a curiosidade. Já bebi essa casta em vinhos portugueses e espanhóis, os maiores e principais produtores. Mas também em brasileiros, uruguaios e norte-americanos. Na noite de 22 de novembro, na estruturadíssima cidade de Cascavel, foi a vez de conhecer um argentino. A Las Perdices tem uma linha chamada Exploración que já nos rendera um Rieling ótimo em 2019. Agora encontrei, por R$ 94 no restaurante, um preço imbatível, meu primeiro Alvarinho argentino. Com um peixe de água doce e risoto de alho-poró ficou divino. Facilmente o procurarei novamente. Los Hermanos também têm minha uva predileta!

LAS Perdices

Na semana seguinte, tudo o que Cascavel me surpreendeu em termos de estrutura eu senti novamente em Maringá. O Paraná tem cidades interioranas tão interessantes quanto São Paulo. E com um amigo querido, que eu não via fazia cerca de dez anos, conheci o restaurante Baco Espaço Gastronômico. Lugar elegante, bela decoração, cardápio muito interessante onde localizei um cordeiro com aligot perfeitos. Para beber, uma carta bem ampla, um cuidado absoluto com o vinho, e escolhemos um malbec argentino com 12 meses de barrica a um bom preço – R$ 98. O Hedone Reserva estava bem tranquilo, não falou mal de ninguém, harmonizando bem com as carnes pedidas. Mas aqui um ponto extra pro restaurante: serviço de vinho ótimo, acondicionamento cuidadoso e temperatura perfeita. Esse detalhe é estratégico: temperatura certa é meio caminho andado.

hedone

Por fim, o capítulo final. Deixei Maringá na noite de quarta-feira. Voo atrasado, e eu tinha apenas 55 minutos para trocar de avião em Guarulhos e seguir pra Porto Alegre. Para sorte do meu retardo no Paraná, a partida para o Rio Grande do Sul também estava atrasada. Deu certo. Mas eu planejava chegar 0h20 e estar na cama 1h00 para lecionar no dia seguinte às 9h00. Entrei no tradicional hotel – merecedor de algumas reformas – San Rafael no centro pouco antes das 2h00. Desanimado, com fome, cansado e amaciado apenas por um achado genial em Maringá – um bar de cervejas artesanais no andar de cima do aeroporto. Mas ao iniciar meu check-in desvendei dentro do hotel uma loja de vinhos. Aberta! A dona estava lá arrumando a casa. Sorriu. Eu resisti. Precisava lecionar.

Voltei no dia seguinte às 17h30, depois das aula, para conhecer a Vinho & Arte. Maria me recebe bem demais. Ela e sua equipe são ótimas e conhecem bem o que vendem. A loja, na verdade, pelo que entendi, é um ponto de encontro para um trabalho de enoturismo e provas. Achei a ideia maravilhosa. As variedades encontradas ali me empolgam. Leio rótulos de Montenegro, Ucrânia e Líbano. Do primeiro país eu nunca provei nada, os demais são raros por aqui, mas conheço algo. O forte por lá são alguns chilenos bem incomuns e os brasileiros com destaque para o produto gaúcho. Fico conversando e levo, para a Ka, um raro vinho laranja da Guatambu a base de Chardonnay. Para consumo imediato uma garrafa de Monte Toscanini Reserva Tannat, casa uruguaia que respeito e faz vinhos a bons preços. Termino uma aula virtual às 22h00 e abro a garrafa para relaxar no quarto. O final dela eu deixo na recepção para um amigo que pegara o mesmo voo que eu, com o mesmo atraso, no dia seguinte. Nada como chegar ao hotel cansado e encontrar um pouco de carinho. Já é quase meia-noite e a loja está aberta. Entro, converso mais um pouco, ouço coisas geniais sobre vinhos, falamos sobre política. Maria quase cursou Ciência Política. No dia seguinte, passo de novo na loja. Hospedagem com loja de vinho no térreo aquece a alma. Compro um rosê para presentear uma amiga e ainda levo comigo um 100% Rebo, casta do nordeste da Itália, produzido pela Cave Darci Locatelli – o Mio Tempo. Curioso, chego com as garrafas em casa. Fim de duas semana intensas de trabalho, que o vinho tratou de amaciar.

guatambumio tempo