Chegamos em Curitiba numa quinta-feira, e no sábado acordamos bem dispostos a conhecer mais uma vinícola, a segunda do roteiro. Bastou ler na internet que a casa recebia visitas de maneira quase informal. A loja fica aberta, as instalações estavam em reforma, e quem se interessa em caminhar um pouco pelo interior da propriedade e ouvir sobre sua história e acerca da lógica de produção é arrebanhado. Gostamos muito do modelo, mais tranquilo, informal e acolhedor.

A Franco-Italiano é uma vinícola que carrega sua história no nome. Conta-se na simpática visita, conduzida pelo atencioso sommelier João, que a união de uma família francesa com outra italiana deu origem ao negócio. No começo o óbvio vinho colonial, mas o sonho era adentrar no universo dos vinhos finos, e eles conseguiram.

A exemplo de outras tantas casas que produzem a bebida nos arredores de Curitiba, as uvas são trazidas de fora – vêm do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, de outras cidades do estado e até mesmo de Minas Gerais. Isso decepciona um pouco quem quer conhecer vinhedos, mas aqui não dá para ignorar o fato de que os proprietários estão se esforçando. Trata-se de uma casa muito perto da capital, e talvez a vinícola de qualidade mais próxima de Curitiba. No fundo de onde funcionava um restaurante, pausado por conta da pandemia, nota-se um vinhedo novo, de plantas ainda magrinhas. Ali estão exemplares de Merlot, segundo nos contaram. E isso nos motiva a voltar daqui alguns anos para ver o que conseguiram a partir disso.

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O Censurato é o rótulo mais curioso da casa, e poderia facilmente ter sido batizado de Boicote ou Boicotado. Cabernet Sauvignon de qualidade elevada, sobretudo se considerarmos que na casa ele é comercializado a R$ 68 – um baita preço. Bastante carvalho, mas um vinho correto, bem gostoso. Eu diria: suculento, e cada gole parece pedir comida. Mas vamos à história que o batiza. Quem nos conta é o sommelier João, contratado faz poucos meses e extremamente atencioso e simpático. Disse que dois membros da família apresentaram a bebida para alguns conhecedores. Como resposta foram desencorajados a acreditar que aquilo era bom. Desanimados, mostraram o vinho para um conhecedor de Curitiba que se encantou e lhes fez uma proposta: envolver o tinto numa degustação às cegas que ocorreria logo e incluiria entre os participantes os especialistas que o desacreditaram. O resultado não poderia ter sido diferente: o vinho foi extremamente elogiado.

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E a casa começou a acumular prêmios. Alguns deles com um espumante topo de linha, o Cuveé Extra Brut, vendido a R$ 74 e feito sob o método tradicional que infelizmente não nos agradou por falta de intensidade e personalidade – o mesmo se aplicando à linha Josephine. Outros ícones surgiram, mas a linha Sincronia era uma velha conhecida nossa. Entre os tintos, havíamos gostado bastante de um Shiraz faz alguns anos, e agora levamos um Malbec – existe ainda um Merlot. Saímos da visita extremamente atenciosa com a certeza de que a casa se prepara para plantar e manter-se produzindo bons vinhos. Em breve, passando por reforma e se afastando da pandemia, a loja ficará muito elegante e o restaurante voltará a funcionar. Pela qualidade do que vimos, será opção ainda mais atraente no enoturismo local. Pode apostar, e voltaremos.

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