O Priorato produz vinhos caros e sofisticados, e seu “primo mais humilde” é absolutamente capaz de oferecer coisas geniais, semelhantes em alguns aspectos, sobretudo na mineralidade, por preços um pouco mais acessíveis. Trata-se de Montsant. Ambas as regiões produtoras estão localizadas na Catalunha, nada muito distante de Barcelona. Para quem gosta e está planejando ir para o agito barcelonês, vale um final de semana nas estradas sinuosas, paisagens naturais, tranquilidade absoluta, e pequenos e charmosos restaurantes, pousadas, lojas de vinhos e vinícolas desse local. Para os amantes de escaladas e longas caminhadas o roteiro também compensa. Mas prepare-se para o calor: foi aqui que vi a temperatura mais alta em um termômetro de carro na minha vida: 46 graus. Foi aqui também que abandonei um sapatênis no hotel com a sola rachada pelo calor. Mas prepare-se para o frio também, pois para retratar o inverno não faltam fotos da região coberta de neve.

Vista do Priorato
Vista do Priorato

Foi aqui, em junho de 2012, que eu e a Ka tivemos um dos mais deliciosos encontros de vinho de nossa história. Num mesmo dia conseguimos agendar os dois mais renomados produtores do Priorato: um na parte da manhã e outro no meio da tarde – duas visitas fantásticas. Entre um passeio e outro, dois desafios: agendar um jantar numa pousada gourmet com a qual me comuniquei semanas antes pela internet (Cal Llop) e almoçar. A cidade em que tudo isso ocorreu foi Gratallops: 246 (não está faltando número aqui) habitantes em 2006. Carro estacionado nos arredores, sol dizimador na cabeça e encontramos a pousada. Perguntei às pessoas que estavam na porta pela proprietária, a senhora Cristina. Uma loira amável olhou para mim e disse sorrindo: “Humberto! Do Brasil!”. Não existe modo mais delicioso de se chegar a um local. Agendamos o jantar, que foi genial, e fomos apresentados aos seus parceiros de conversa. “O que fazem aqui, vindo de tão longe?”, perguntaram. A resposta é a mesma de sempre: “descobrindo vinhos”. O rapaz suado, barba por fazer, modo de vestir rural disse que também produzia vinhos e estava à disposição para mostrar sua casa no dia seguinte. Marcado! Antes do jantar na pousada.

Jantar no Cal Llops (Cristina)
Jantar no Cal Llops (que a Ka retratou aqui)

A segunda missão era o almoço. E nosso amigo produtor, Fredi Torres, não hesitou em nos chamar. O casal que estava com ele era formado por arquitetos de vinícolas, designers de rótulos e fotógrafos de vinhos – não sei bem dizer quem fazia o quê. Refeição perfeita, em grupo, no restaurante de um hostel, chamado por eles de restaurante dos operários. Ótimo!

Tão maravilhosa quanto foi a visita do dia seguinte. Fredi nos levou aos vinhedos em sua caminhonete e explicou a produção orgânica de seus vinhos. Evitando os defensivos chegava a uma bebida maravilhosa. A segunda etapa foi na sede da vinícola, onde ele também mora. Uma construção na antiga vila, com um porão destinado ao envelhecimento de um vinho maravilhoso. O ponto alto, o Planassos: vinho de gente grande. De uma capacidade impressionante, com uma degustação muito agradável e compras no final da estada. Daí pra frente os passos da modernidade: nos adicionamos no Facebook e passamos a curtir posts e algumas ideias. Em 2013, inevitavelmente, voltamos ao Priorato após um tour de vinho que descreverei em textos futuros. Fredi nos recebeu em sua casa para jantar e foi uma experiência maravilhosa. Como forma de homenagear tudo isso, meus 38 e 39 anos foram comemorados com duas garrafas de Planassos – 2006 e 2008, trazidos dessas duas visitas. Outra forma de louvar o que vimos em 2012 foi com uma noite na charmosa casa de Cristina e um belíssimo polvo no “restaurante dos operários”!

Vinícola Saó del Coster
Vinícola Saó del Coster